Pedro Mesquitela - II [28-05-2010]

Recebo e publico algumas notas de Pedro Mesquitela, protagonista - ele e a sua família - de páginas importantes da luta integracionista pelo então Ultramar português.

Foi um período muito interessante, pois nem sempre as pessoas estavam directamente ligadas a partidos, e muitos iam apenas pelo feeling e sem coordenação alguma, participando só de grupos restritos aos amigos.

Poucos foram realmente influentes como pensadores ou idealizadores, e, eu mesmo, nunca fui ligado a nenhum partido ou facção política, tendo sempre pautado as minhas acções pelo que me parecia correcto e não porque seguisse ordens de ninguém. Fui mais prático do que teórico, embora tivesse estudado toda a teoria. Conheci pessoalmente a maior parte dos nomes que cita a respeito de Coimbra, e concordo que eles tinham um maior embasamento político como grupo. Lisboa sempre foi mais "generalista ".

De certa forma fui o contrário do Luís Fernandes. Ele era o teórico, mas só conheceu a prática no exército. Eu era o prático que no exército foi CCC (graduado em comandante de companhia) mas trazia a bagagem de ter nascido no meio da política e conhecer bem os atores, tanto na Metrópole como no Ultramar. E tinha uma experiência prévia de comando.

As únicas vezes que me consenti pertencer a algum grupo foram os escoteiros em Lourenço Marques e, claro, a Mocidade Portuguesa. Depois conheci o Luís Fernandes (creio que através do António Maria Zorro e o António Couto Viana) e passámos a militar juntos em algumas acções inclusivamente na Legião Portuguesa. Foi ele que me levou para lá e tivemos boas discussões internas no grupo de combate a que pertencíamos com teóricos "marcelistas" tipo Casal Ribeiro .
E nós estávamos certos, o que não ajudou em nada pós 25 de Abril, a não ser prisão ou confinamento domiciliar e seguidas idas á Comissão de Extinção da Legião Portuguesa (leia-se MFA).

Acredite que hoje sou muito mais liberal, talvez até porque não sofro pressões de nenhum tipo e não tenho que reagir com a mesma intensidade e em sinal contrário. Mas não acredito em nenhum político nem faço política no sentido lato da palavra. Acompanho como espectador atento, tiro as minhas conclusões, comparo minhas opiniões no passado com o futuro, e fico feliz quando acerto o diagnóstico. E fico triste com a "baixa política" existente hoje em Portugal.

Que saudades da Librerie de L'Amitié em Paris ....e, de certa forma, da Nouvelle Ordre e dos seus ideólogos. Ao menos existia uma ideologia pela qual viver e lutar. Hoje não sei se realmente existe, até porque o mundo está muito diferente e o bipolarismo acabou (felizmente nesse ponto). Mas falta ainda a "Terceira Via " que nem sabemos ainda realmente o que é.

Vi muito, ouvi muito, vivi muito até porque os Pais e irmãos estavam em Moçambique e eu era o único em Lisboa na Faculdade de Direito. Tinha assim acesso aos 2 lados da realidade portuguesa - a da Metrópole e a do Ultramar, a dos civis e a dos militares, a dos políticos de "esquerda"e de "direita". Triste foi ver como a população da Metrópole em geral conhecia mal a realidade Portuguesa. E disso se aproveitaram muitos, sem escrúpulos nem cor política.

Isso não significa que eu não aprove um Portugal mais Europeu. Também acreditei que as Províncias deveriam ter sua independência, mas não gostei da forma como foi feito, com total desrespeito aos portugueses de lá e até animosidade na Metrópole em relação aos chamados "retornados ". E, sobretudo, o posicionamento dos 2 primeiros governos pós 25 de Abril em relação aos cidadãos, tanto em Portugal como no estrangeiro (consulados). Sou testemunha viva disso, pois saí de Portugal em Agosto de 1975 e só pude voltar em 1988 (quando consegui uma amnistia pela visita do Papa), que acabou com a minha ordem de captura em Portugal. E tive irmãos considerados apátridas pelo Governo Português só porque tinham nascido em Moçambique...Mas tinham bilhetes de identidade e passaportes dizendo República Portuguesa, e não conheceram nunca outra bandeira na vida que não fosse a nossa.

Vejo hoje mais as coisas sob o ponto de vista humano do que político.

Pedro Mesquitela

Pedro Mesquitela - I [28-05-2010]

Recebo e publico algumas notas de Pedro Mesquitela, protagonista - ele e a sua família - de páginas importantes da luta integracionista pelo então Ultramar português.

[Na] reunião na Quinta das Lágrimas, em Coimbra em 1970, após incidentes no Teatro Gil Vicente, […] discursaram vários integrantes das chamadas "direitas" inclusive ex-ministros de Salazar (Franco Nogueira), de que resultaram realmente vários artigos contra o regime "liberal" do Marcelo Caetano. O Luís Fernandes deve ter ainda cópia do artigo que na altura escrevi no jornal que ambos patrocinávamos chamado "Acuso". Muita pretensão minha ...

Devemos ainda falar de gente que naquela altura foi realmente importante como o Jaime Nogueira Pinto, o Luís Fernandes e o Pedro Pinto (em Lisboa) e nos movimentos nas faculdades em Lisboa em 1970 (Jorge Braga de Macedo, Marcelo Rebello de Sousa, eu mesmo, e tantos outros, que já demonstrava o que seria o pré e o pós 25 de Abril.) E os movimentos dentro do próprio governo de Marcelo Caetano com gente como o Baltazar Rebello de Sousa, o Silva Cunha (antigo ministro do Ultramar), O João Rosa (ex-ministro das Finanças) cada qual com a sua agenda e propósito.

[…] meu Pai escreveu vários livros sobre a posição a respeito do Ultramar e fez várias intervenções na Assembleia onde era deputado por Moçambique , e até 7 volumes sobre a História de Portugal em Macau e Extremo-Oriente . Mas fazem parte de um quadro mais vasto, e só posso adiantar que as chamadas "direitas" não eram exactamente monolíticas, tendo várias vertentes, sobretudo no que respeita á política Ultramarina. Desde 1952, quando o Prof. Adriano Moreira foi Ministro das Colónias existiam vários movimentos e matizes quanto á auto-determinação, independência ou simples abandono do Ultramar. Expoentes eram o próprio Prof. Adriano Moreira (que criou o ICSPU), o meu Pai, o Jorge jardim, o Santos e Castro (governador em Angola), o Pimentel dos Santos (governador em Moçambique) entre outros.
Cada qual á sua maneira e com uma visão pessoal do futuro, embora pudessem diferir nos meios para se alcançarem os fins. E todos poderiam ser chamados de "direitas". Mas "direitas" em relação a quê? Onde estava o centro em 1970? Enfim, daria para conversarmos anos a fio.

O Ultramar era a grande questão em Portugal, talvez porque era filho de uma visão de ditadura ou de democracia. Sobretudo a partir de 1970 a questão fica mais aparente, com o Marcelo Caetano e sua indecisão íntima, a traição ao Integralismo Lusitano de que tinha sido artífice, a traição aos ideais "fascistas" como Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, e a enorme falta de capacidade de substituir o movimento aglutinador da antiga União Nacional pela amorfa ANP. Mas não quero ainda entrar nessa questão. É só um "aperitivo ".

Folhas Ultras na Feira do Livro


No Sábado dia 15 de Maio, estarei na Feira do Livro de Lisboa, das 15 às 18 horas, junto do stand da editora Imprensa de Ciências Sociais, para uma “secção de autógrafos” do livro Folhas Ultras.

Escuso de dizer que “secção de autógrafos” é apenas o nome um tanto altissonante para informar da presença do autor. Quem procura o livro ou passeie por aí e queira aparecer por trocar umas ideias, dar sugestões e comentários acerca do tema tradado é bem-vindo.

Riccardo

José Valle de Figueiredo em África

Publico uma rectificação historiográfica que me fui enviada por um protagonista bem informado do meio nacionalista português.

Depois de ter enviado o comentário anterior, verifiquei que o que tinha escrito sobre o Zé Vale de Figueiredo não estava correcto. A memória às vezes prega-nos partidas.
A correcção é a seguinte: O Zé Vale (Alferes Miliciano de Infantaria) ofereceu-se como voluntário para a Guiné em 1967, para onde foi em rendição individual. Era Comandante Chefe o General Arnaldo Schultz. Spínola só chega à Guiné em 1968.

Corrigido este meu lapso não quero deixar de dizer que de entre todos os "nacionais" não houve nenhum que se escusasse a ir para os Teatros de Operações, uns voluntários e outros logo mobilizados, sem hipóteses de tempo para se voluntarizarem.
Também é certo que alguns Camaradas mobilizados para Províncias não em guerra (Timor e Cabo Verde) trocaram as suas mobilizações de forma a poderem ir para os teatros de operações

José Carlos