Memórias do meio Monárquico [04-02-2011]

Mais um interessante testemunho sobre o meio monárquico dos anos 50-60, por parte de um antigo militante de Jovem Europa.

Em “Império – Nação – Revolução”, no capítulo As Organizações Menores da Direita Radical nos Anos 60, trata da Real União Portuguesa (RUP) e do Movimento da Juventude Monárquica (MJM). Talvez tenha interesse o que escrevo a seguir.

A Causa Monárquica, como é sabido, foi durante muitos anos uma extensão política da União Nacional, Partido Único, a que sucedeu a Acção Nacional Popular, também Partido Único.

A palavra Causa foi escolhida porque excluía no seu significado os Partidos. Tal como União. Ambas as organizações eram anti-partidárias, integrando o movimento político europeu, e não só europeu, de combate aos Partidos Políticos – ao pluripartidarismo – durante o período de entre Guerras: 1918-1939.

Assim, a Causa Monárquica tendia a incluir todos os Monárquicos e a União Nacional todos os Portugueses. Nem uma nem outra conseguiram o intento. A primeira, embora muitos anos influenciada pelos Integralistas – anti-partidários – teve sempre Liberais, favoráveis à existência de Partidos.

As cisões na Causa Monárquica foram várias, a começar pela de parte dos Fundadores do Integralismo Lusitano, que com ela se incompatibilizaram muitos antes do fim da II República caída em 1974.

Sem pormenorizar o tema das cisões, falarei duma que me parece de grande importância no desmantelamento da União Nacional.

Em 1957, surgiu a ideia de um grupo de Monárquicos fazer parte das listas eleitorais daquele Partido Único, mediante certas condições de independência dos elementos Monárquicos. Iam realizar-se as Eleições Legislativas, que como sempre não seriam eleições livres. Este projecto assemelhava-se ao sucedido nas Eleições de 1969, quando surgiu a Ala Liberal.

Verificaram-se desentendimentos. Os Monárquicos não participaram e surgiu um movimento de oposição ao Regime. Como se sabe, até então os Monárquicos tinham sido apoiantes – na sua esmagadora maioria – do Salazarismo.

O principal dirigente deste movimento foi, sem qualquer espécie de dúvida, Francisco de Sousa Tavares. Embora haja outros que sem legitimidade pretendam que tiveram essa qualidade. Oportunismo e vaidade, como é habitual.

As raízes desta posição de 1957 devem ser procuradas noutros acontecimentos anteriores como o Caso Dadrá e Nagar-Aveli, em 1954. Estes são os nomes de dois enclaves da então Índia Portuguesa que foram ocupados pela força pela União Indiana. A reacção nacionalista do Regime e a de certos Monárquicos foi completamente diferente. Esta realidade abriu conflito grave de natureza ideológica e política entre Regime e Monárquicos. Teve efeitos mediatos importantes no apoio que os Realistas deram às Eleições de 1958 para a Presidência da República, em que Humberto Delgado foi Candidato.

Após os acontecimentos de 1954 e de 1957 começaram a verificar-se movimentos de muito mais Monárquicos no sentido da crítica ao Regime. Mas crítica muito débil, com muitos compromissos.

Tudo isto – e muito mais – determinou uma nova oposição clara à II República nas Eleições legislativas de 1969. Os Monárquicos surgiram com a sua lista própria, na contestação evidente ao Salazar-Caetanismo. Desta lista independente faziam parte várias pessoas: desde os que já contestavam em 1954, aos críticos débeis e comprometidos que acima refiro, como Henrique Barrilaro Ruas.

A RUP e o MJM apesar do seu tom radical foram manifestações efémeras que acabaram por se integrar, formal ou informalmente, na Causa Monárquica ou na secessão verificada nesta. Aqueles grupos actuaram muito naturalmente na década de 60, na qual se verificaram dois acontecimentos importantíssimos de contestação ao Salazar-Caetanismo: 1962, lutas académicas que determinaram a intervenção da polícia de choque na Universidade de Lisboa. O então Reitor, Marcello Caetano, demitiu-se em sinal de protesto. Foi em 24 de Março. 1969, crise académica de Coimbra considerada como decisiva na queda do Regime ditatorial, em Abril-Junho.

O Radicalismo Monárquico durante a II República foi sobretudo levado a efeito pelo grupo denominado vulgarmente de Monárquicos Fascistas, gente da geração universitária dos anos 40. Os seus nomes principais foram Amândio César, António José de Brito, Caetano Beirão filho, Carlos Guerra de Oliveira, Carlos Klut de Andrade, Fernando Guedes e alguns mais. Este grupo era também chamado do “Avis”, nome dum café então existente, localizado na Praça dos Restauradores em Lisboa, junto ao edifício Eden, que frequentavam também elementos dos denominados Serviços Secretos da Legião Portuguesa, de que era principal responsável José Manuel Salgado, e por simpatizantes do clube desportivo Sporting Clube de Portugal. Faziam ainda parte da clientela elementos do Jornal Agora.

Para além das publicações afectas a este grupo, que teve como vulto importante Florentino Goulart Nogueira, foi aquele que, em meu entender, fez política radical principalmente. E não a Imprensa Radical de expressão Monárquica. Tenho ainda bem presente os embates de natureza intelectual, dialécticos, com os Monárquicos não Radicais, que eram a esmagadora maioria, ligados à Causa Monárquica ou não.

É muitas vezes referido António José de Brito como o filósofo dos Fascistas Monárquicos, ou Radicais. Penso que não: Brito era demasiadamente dogmático, dogmatismo que lhe vinha muito mais da Política do que da Filosofia. Aliás, personalidade cheia de contradições, bem demonstradas depois de 25 de Abril de 1974 no diálogo, diálogos, que manteve com o Regime nascido naquela data. [Perguntei à minha testemunha um esclarecimento – que ainda não recebi - acerca dessa afirmação, sendo que pelo meu conhecimento e amizade pessoal com o Professor António José de Brito me atreveria a afirmar exactamente o oposto respeito a quase todo o conteúdo dessa afirmação. N.d.R.]

A referida crise de 1957 determinou mediatamente, em momentos diferentes, a defesa do ambiente criado pelas Eleições Presidenciais de 1958.

Dos nomes envolvidos na RUP e no MJM, os principais, que ficaram para os registos Monárquicos, foram Alexandre Bettencourt, António Borges de Carvalho, Augusto Ferreira do Amaral e Luís Coimbra. Todos eles integraram o Partido Popular Monárquico.

Este grupo de jovens foi antecedido por um outro um pouco mais velho: Alberto Moutinho Abranches, Álvaro Ferreira da Silva (Fraião), Fernando Amaro Monteiro e eu próprio.

Podemos considerar os dois grupos de jovens como o primeiro e o segundo, cronologicamente, que assumiram posições oposicionistas enquanto Monárquicos, no quadro da II República.

Os oito nomes indicados, posteriormente, tomaram posições bem diversas, embora mantendo o seu Monarquismo.

Menção Honrosa do Prémio Fundação Mário Soares [17-12-2010]

Eis os momentos salientes da entrega da Menção de Honra do Prémio Fundação Mário Soares.

Aproveitei a ocasião para sublinhar como, apesar de reivindicar a minha identidade 100% italiana, prefira considerar-me, mais que um investigador extrangeiro a trabalhar no extrangeiro sobre a história de um país extrangeiro, um investigador europeu, a trabalhar na Europa, sobre a história de Europa.

Um bocado retorico, talvez, mas sentido.