Rompendo o silêncio que tem caído, como uma cortina de ferro, sobre os movimentos nacionalistas portugueses do século XX, Riccardo Marchi publicou há pouco “Império, Nação, Revolução” – uma obra de sabor académico com 400 páginas (Texto Editora, 17 euros).
À primeira vista, estamos perante um estudo exaustivo das organizações “nacional-revolucionárias, neofascistas e de direita radical” actuantes no nosso País entre 1959 e 1974. Mas só à primeira vista. De facto, este livro abre inúmeros caminhos de investigação, mas pela sua superficialidade não passa de um índice para um verdadeiro trabalho histórico que está ainda por fazer.
Riccardo Marchi, um voluntarioso investigador de 36 anos de idade, faz a sua licenciatura em Pádua com uma tese sobre o Estado Novo português e dai lhe veio a ideia de um doutoramento no ISCTE sobre a direita revolucionária portuguesa, de que este livro é a súmula.
Mas as suas opções de fundo são questionáveis. Desde logo, porque iniciar o seu estudo em 1959? Faria muito mais sentido uma boa introdução sobre o pensamento nacionalista português do século XX (incluindo a Cruzada Nun’Álvares, o Integralismo Lusitano, o Nacional-Sindicalismo, a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa), iniciando-se a narrativa no muito mais marcante ano de 1946, quando Caetano de Melo Beirão, Amândio César e António José de Brito iniciam a sua colaboração na “Mensagem”.
Em vez disso, Marchi envereda por um estudo cómodo sobre as publicações dos movimentos da Direita revolucionária – isto é, apenas sobre o material impresso -, necessariamente pontuado por longas citações e sem nos dar conta da “vida real” desses movimentos. Frequentes remissões para trabalhos dos autores esquerdistas Fernando Rosas e António Costa Pinto não ajudam a uma compreensão “por dentro” do tema da sua tese.
É certo que pelas páginas de “Império, Nação, Revolução” passam as publicações “Tempo Presente”, “Agora”, “Cidadela”, “Combate”, “Via Latina” e “Política”, o Circulo de Estudos Alfredo Pimenta, o Movimento Jovem Portugal, a Frente dos Estudantes Nacionalistas, o Movimento Jovem Europa e grupos de combate como os “Centuriões” e os “Viriatos”, mas tudo num registo tipo “relatório de ocorrências”, sem alma e sem chama. De um tema empolgante, o autor consegue fazer uma monumental maçada cronológica, a que não faltam erros factuais e inexactidões linguísticas. A começar pelo inaceitável “serrar fileiras” da primeira página do texto – erro crasso de que encontramos inúmeros cambiantes, ao longo do livro, e exigir revisão de mestre-escola.
Apesar de todos os “senão”, o trabalho de Marchi abre caminho na floresta virgem que é o tema da Direita Portuguesa. Falta agora vir alguém que, a partir deste “menu”, faça realmente História.
À primeira vista, estamos perante um estudo exaustivo das organizações “nacional-revolucionárias, neofascistas e de direita radical” actuantes no nosso País entre 1959 e 1974. Mas só à primeira vista. De facto, este livro abre inúmeros caminhos de investigação, mas pela sua superficialidade não passa de um índice para um verdadeiro trabalho histórico que está ainda por fazer.
Riccardo Marchi, um voluntarioso investigador de 36 anos de idade, faz a sua licenciatura em Pádua com uma tese sobre o Estado Novo português e dai lhe veio a ideia de um doutoramento no ISCTE sobre a direita revolucionária portuguesa, de que este livro é a súmula.
Mas as suas opções de fundo são questionáveis. Desde logo, porque iniciar o seu estudo em 1959? Faria muito mais sentido uma boa introdução sobre o pensamento nacionalista português do século XX (incluindo a Cruzada Nun’Álvares, o Integralismo Lusitano, o Nacional-Sindicalismo, a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa), iniciando-se a narrativa no muito mais marcante ano de 1946, quando Caetano de Melo Beirão, Amândio César e António José de Brito iniciam a sua colaboração na “Mensagem”.
Em vez disso, Marchi envereda por um estudo cómodo sobre as publicações dos movimentos da Direita revolucionária – isto é, apenas sobre o material impresso -, necessariamente pontuado por longas citações e sem nos dar conta da “vida real” desses movimentos. Frequentes remissões para trabalhos dos autores esquerdistas Fernando Rosas e António Costa Pinto não ajudam a uma compreensão “por dentro” do tema da sua tese.
É certo que pelas páginas de “Império, Nação, Revolução” passam as publicações “Tempo Presente”, “Agora”, “Cidadela”, “Combate”, “Via Latina” e “Política”, o Circulo de Estudos Alfredo Pimenta, o Movimento Jovem Portugal, a Frente dos Estudantes Nacionalistas, o Movimento Jovem Europa e grupos de combate como os “Centuriões” e os “Viriatos”, mas tudo num registo tipo “relatório de ocorrências”, sem alma e sem chama. De um tema empolgante, o autor consegue fazer uma monumental maçada cronológica, a que não faltam erros factuais e inexactidões linguísticas. A começar pelo inaceitável “serrar fileiras” da primeira página do texto – erro crasso de que encontramos inúmeros cambiantes, ao longo do livro, e exigir revisão de mestre-escola.
Apesar de todos os “senão”, o trabalho de Marchi abre caminho na floresta virgem que é o tema da Direita Portuguesa. Falta agora vir alguém que, a partir deste “menu”, faça realmente História.
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