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Jaime Nogueira Pinto no "i" [29 Dezembro 2009]

“Como nós fomos...”

Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época. Pensamos e lutamos por ideias de justiça social.

“Império, Nação, Revolução. As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1945-1974)”, de Riccardo Marchi, abre uma janela sobre uma terra quase incógnita da nossa historia próxima. Marchi nasceu em Pádua, em 1974. E por isso é um alien nesta paisagem, que vem olhar e contar. Mas trouxe cânones analíticos que faltam à intelectualidade indígena, que, seguindo a vulgata antifascista, arrumou indiscriminadamente todas estas “direitas” em “fascistas”, “reaccionários”, “extrema-direita” – os “maus” ou “vilões” da história.
A hegemonia política da esquerda há trinta e cinco anos faz com que as categorias políticas de esquerda e extrema-esquerda sejam estudadas e debatidas com algum rigor. Mas persiste a amálgama conceptual na área da direita, que, salvo raras excepções, ainda é contada pela esquerda.
Dai o mérito do livro de Marchi, que, além de estabelecer as distinções requeridas, procurou conhecer o pensamento, o sentimento, a história desta área. A galáxia aqui contada teve revistas, jornais, editoras – Tempo Presente, Combate, Via Latina, O Ataque, Política, Cidadela; teve movimentos de juventude – como o Jovem Portugal nacional-revolucionário, fundado pelo Zarco Moniz Ferreira; ou a FEN – Frente dos Estudantes Nacionalistas – mais salazarista; teve clubes de pensamento e reflexão, e até um grupo de teatro – A Oficina. Teve escritores, académicos, intelectuais, jornalistas, militantes, estudantes, combatentes; fez panfletos, furou greves, resistiu nas faculdades da década de 1965-74 à hegemonia de controlo do movimento associativo. E foi, em 1974-75, de onde veio a única resistência à descolonização.
Conheço bem esta história; fiz parte dela. Dos que lá estivemos, uns voltaram à politica depois de 1976, como o Francisco Lucas Pires e o José Miguel Júdice, outros continuaram no combate cultural, outros desistiram, alguns morreram.
Nestes movimentos estiveram conservadores, tradicionalistas, monárquicos, salazaristas, nacionalistas-revolucionários, fascistas. A trilogia nação, império, revolução pode servir-lhe de denominador: a nação e o império – e a ideia de transformar o império em nação – foram símbolos e valores de todos e estiveram na origem da vinda da maioria para a acção política. Já a revolução foi atributo dos que então se distanciaram do Estado Novo e buscaram inspirações em movimentos do passado, como o fascismo revolucionário de 1920 ou o falangismo de José António. Era a sua terceira via.
Éramos assim. Como as esquerdas radicais, vivemos intensamente os combates políticos da nossa época e, bem longe dos estereótipos de senhoritos reaccionários ou de caceteiros do regime, pensamos e lutamos por ideias de integração nacional e justiça social. Que hoje podem parecer utópicos, mas na época nos surgiram como a alternativa ao que estava e àquilo que vinha.

Jaime Nogueira Pinto
Professor universitário

Poetas & Trovadores [Janeiro/Março 2010]

Império, Nação, Revolução As direitas radicais portuguesas no fim do Estado Novo (1959-1974)

Riccardo Marchi é um jovem investigador italiano (n. Pádua, 1974). No ano 2000 licenciou-se com uma tese sobre o Estado Novo e o Fim do Império Português (1945-1975). Continuou a interessar-se pela dinâmica das direitas radicais no fim do Estado Novo, tema que em 2005 acolheu para tese de doutoramento no ISCTE. Desde Abril de 2008 é investigador de pós-doutoramento no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, retomando o projecto das direitas radicais na democracia portuguesa.
Nestas 440 páginas, resumo da tese de doutoramento, condensa figuras e pensamentos de muitos políticos e ideólogos do Estado Novo que colocaram todas as suas energias a defender as ideias do estado-novismo. Alfredo Pimenta, João Ameal, Fernando Pacheco Amorim, Caetano Beirão, António José de Brito, Fernando Campos, Amândio César, João Bigotte Chorão, Freitas da Costa, Guilherme Braga da Cruz, Rodrigo Emílio, Pinharanda Gomes José Miguel Júdice, Luís Amado, Goulart Nogueira, Jaime Nogueira Pinto, Lucas Pires, António da Cruz Rodrigues, Vítor Manuel de Aguiar e Silva e António M. Couto Viana são alguns dos autores portugueses citados. Mas cita também muitos tratadistas estrangeiros. Um trabalho notável deste jovem docente e investigador que conhecemos pessoalmente em Guimarães, onde veio beber nas obras de Alfredo Pimenta. Teve a gentileza de também mencionar o nosso projecto de investigação sobre Alfredo Pimenta: da práxis Libertária à doutrinação nacionalista. Texto Editores, Novembro de 2009.

Barroso da Fonte

Ler - Livros e Leitores [01-02-2010]

Império, Nação, Revolução. As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)

Riccardo Marchi

Ainda que não de uma forma completa e sistemática, desde há alguns anos que têm vindo a ser revelados elementos que permitem conhecer a formação, os comportamentos e os destinos da esquerda radical na fase final do salazarismo e sobretudo durante o período marcelista. O seu papel activo e, à época, razoável e crescentemente alargado no interior do movimento estudantil, tem contribuído para o reconhecimento dessa imagem. Já a observação da direita radical ao longo do mesmo lapso de tempo se manteve quase inteiramente por fazer, em grande parte porque ela materializou o lado vencido da nossa História recente, e também porque, à época, a sua dimensão e visibilidade eram de facto bastante reduzidas. Todavia, elas materializaram um espaço significativo de resistência à própria agonia do regime, propondo de certo modo um retorno às suas origens, à ideia de Império e ao espírito e forma de um certo «Portugal Eterno». Este livro de Riccardo Marchi (n. 1974), constituindo a parte central da sua tese de doutoramento defendida no ISCTE, vem colmatar a lacuna e, ao mesmo tempo, revelar um trajecto bem mais activo e diversificado do que aquele que muitos de nós, baseados apenas na memória dos anos terminais do Estado Novo, poderíamos conhecer. [Texto Editores, 440 págs.]

Jornal de Negócios [31-12-2009]

Histórias de uma outra Direita no Estado Novo

Durante as últimas décadas do regime do Estado Novo surgiram uma série de movimentos que tentaram repensar o lugar da direita em Portugal. Este é um bom estudo sobre o tema.


Durante os anos de Salazar muitos supuseram que o seu pensamento político, económico, social e cultural era quase hegemónico na sociedade portuguesa. Exceptuando a esquerda ilegalizada, não haveria oxigénio para se respirar. Riccardo Marchi, neste excelente estudo sobre as “direitas radicais portuguesas no fim do Estado Novo (1959-1974)” mostra como dentro do bloco social que apoiava o regime, emergiram diferentes correntes politicas e ideológicas que não alinhavam com o conceito central do Estado Novo lapidado por Salazar. Não se fala aqui muito de Rolão Preto ou mesmo do pensamento que António Ferro fomentou quando esteve à frente da propaganda do regime, mas sim de várias gerações que até ao 25 de Abril tentaram abrir novos caminhos dentro do sector conservador nacional.
Há momentos francamente interessantes como o dos do grupo que se juntou á volta da revista “Tempo Presente”. Quando esta analisa o fenómeno dos “teddy-boys”, como os jovens rebeldes das periferias londrinas dos anos 50, o grupo é acusado pela direita conservadora d Estado Novo de ter as mesmas ideias, sobretudo pela irreverência das suas criticas e pela exaltação fascizante das suas prosas”, como escreve Marchi.
A este grupo não lhe agrada o conceito corporativo do Estado Novo e a sua afeição transfere-se antes para a órbita do integralismo lusitano. A diferença é crucial, escreve o autor: “O homem, para os jovens neofascistas, é um animal político, cuja dimensão natural é a comunidade radicada na história e nas tradições, isto é, na nação. Só nesta faz sentido falar de liberdade do homem. Sendo que na concepção fascista, o Estado é a nação politicamente organizada, a consequência é que o homem é apenas livre dentro do Estado, não podendo reivindicar nada fora e contra o Estado”.
Riccardo Marchi segue, ao longo das páginas, outros grupos que foram emergindo no meio do regime, uns com o pensamento mais estruturado, outros com interesses mais ambíguos. O pensamento sobre a nação, sobre a integração na Europa (e em que estilo de Europa, como é notório na confusão que sobreveio à vinda a Portugal de Jean Thiriart em 1966, que defende uma Europa unida, que não é a da futura UE) e sobre a ligação a África é muito interessante para ver as convulsões dentro das juventudes do regime. Pelo caminho vamos encontrando nomes conhecidos: Vasco Lourinho, Jaime Nogueira Pinto, Francisco Lucas Pires, João Bigotte Chorão, José Miguel Júdice.
A partir de meados dos anos 60 o grupo de Valle de Figueiredo antevê onde o regime começa a perder a guerra: no combate cultural e das ideias.
Ao longo das páginas são referenciadas muitas actividades destes grupos entre Lisboa e Coimbra (especialmente) e que acabam por ter uma forte implantação no meio universitário.
É curioso como o autor analisa o encontro entre estes jovens e Salazar: “Salazar não era um revolucionário, não era um fascista, não era um chefe das massas, não era um líder carismático à maneira dos anos 30 e, por isso, não podia ser o mito e a referência máxima para estes jovens radicais. Contudo em 1961, Salazar toma, sem vacilar, a posição da defesa incondicional da África portuguesa, realçando, aos olhos dos nacionalistas, o seu nível de estadista face aos indecisos da situação e aos inimigos da comunidade internacional. Aqui deve ser procurado o “salazarismo” do nacionalismo radical”. Este livro acaba por ser uma fonte ideal para entendermos melhor a derrota cultural da direita portuguesa a partir da década de 60. E da qual ainda não conseguiu sair. Mas é sobretudo um muito bom estudo de um sector que, nalguns casos, viria a ter um papel forte na vida política nacional.

Fernando Sobral

Sábado [11-02-2010]

Jornal de Leiria [31-12-2009]


Badaladas [08-01-2010]

Império, nação, revolução

Neste livro, inédito sobre esta temática, Riccardo Marchi conta-nos a história política e cultural deste pequeno segmento, decisivos nos confrontos ideológicos da fase final do Estado Novo. Conforme se pode ler no prefácio de António Costa Pinto, estes «vencidos» não estavam «dispostos a sacrificar, com a agonia do regime, o eixo central do seu próprio imaginário colectivo: o Império, espírito e forma do “Portugal eterno”.» A obra trata, de forma directa e acessível, um contexto e um movimento político singulares na nossa história. Riccardo Marchi nasceu na cidade italiana de Pádua em 1974, onde cursa na Faculdade de Ciências Políticas. Em 2000, licencia-se com uma tese sobre o Estado Novo e o fim do império português (1945-1975). Durante as investigações em Portugal, interessa-se pela dinâmica dos movimentos radicais no fim do Estado Novo, tema que, em 2005, se torna em definitivo o seu projecto de doutoramento em História. É investigador de pós-doutoramento no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, com um projecto sobre as direitas radicais na democracia portuguesa. “Império, Nação, Revolução: as direitas radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974)” é uma obra publicada pela Texto Editora.

Vidas Alternativas [3-02-2010]

As direitas radicais portuguesas no fim do Estado Novo

Fonte: http://va.vidasalternativas.eu/

O Estado Novo de Salazar e Caetano conhece na década de 60 uma evolução tumultuosa, decorrente das eleições de 1958, da contestação do colonialismo à esfera internacional e nacional, da reorganização das oposições, da movimentação estudantil das várias famílias da esquerda, de um processo de desenvolvimento que vai afastando progressivamente o regime dos diferentes ideários a que se propusera dos anos 30 em diante. No fundo, uma mudança dramática da modernização da economia e da sociedade e a escalada das frentes africanas que foram erodindo o regime, lançando-o no ocaso. “Império, Nação, Revolução, As Direitas Radicais Portuguesas no Fim do Estado Novo (1959-1974) ” é um livro precioso – pelo rigor e abrangência – para compreender o comportamento da extrema-direita mais ou menos neofascista, em Portugal, quais as suas forças motrizes ideológicas, as suas motivações imperiais, quais as suas relações com as estruturas do mando ao tempo de Salazar e Caetano (por Riccardo Marchi, Texto Editores, 2009). A primeira manifestação estudada pelo investigador é a revista Tempo Presente, impulsionada por discípulos de Alfredo Pimenta, um intelectual de referência dos neofascistas (Pimenta tem uma esclarecedora correspondência trocada com Salazar, que permite perceber como o ditador era muito sensível às suas mensagens). Intelectuais da direita radical como Amândio César, António José de Brito, Fernando Guedes, Couto Viana e Goulart Nogueira convergem para o projecto da revista Tempo Presente. O regime, através do SNI, irá financiar a revista. A publicação revelará qualidade, pauta-se pelos ideais nacionalistas, entrará mesmo nalguma colisão com os sustentáculos do regime que, no Verão de 1961, levarão à sua extinção. A Tempo Presente era uma publicação cultural com uma relativa abertura: revelou o abstraccionismo geométrico do pintor Fernando Lanhas, a poesia experimental, as vanguardas poéticas anglo-saxónicas, do mesmo modo que retomou os mitos do fascismo como Ezra Pound ou Drieu La Rochelle e Robert Brasillach. Não se escondia a defesa do Estado totalitário, o corporativismo e fazia-se a contestação política do que se passava na Europa do pós-guerra, advogando-se um nacionalismo de carácter universalista como se supunha ser o português, denominado a Euráfrica. A Europa é que estava em crise, a sua raça branca perdera o sentido de missão. A questão colonial irá envolver a Tempo Presente, os seus editores irão apoiar as decisões de Salazar, no início de 1961. A revista participa em vários eventos e entrará em polémicas com os meios monárquicos e com ortodoxia do regime. Alguns destes nacionalistas radicais, como António José de Brito, revelam-se teóricos verrinosos, alertam para os perigos que assediam o catolicismo, o personalismo cristão, a abertura democrática, a tolerância liberal. Brito irá revelar-se indiscutivelmente um teórico com produção autónoma em torno do nacionalismo, definindo-o sem hesitar como antiliberal, antidemocrático, anti-partidário, adepto da homogeneidade racial e anti-semita. Assim, vai-se caminhando para o conceito imperial que é o suporte do Portugal do Minho a Timor. Importância menor teve a criação do Centro de Estudos Alfredo Pimenta, fundado em 1972. Para ele convergem figuras da outra geração como João Ameal e Amândio César, António José de Brito, Fernando Guedes, entre outros. É uma referência para o meio neofascista, nele irão intervir figuras como David Gagean, Manuel Múrias, Artur Anselmo, colaboracionistas fascistas franceses, entre outros. O Movimento Jovem Portugal marca, no início dos anos 60, a ascensão de um nacionalismo revolucionário desta nova geração, liderado por Zarco Moniz Ferreira. Os promotores deste Movimento atacam as Nações Unidas e a sua política de descolonização, criam a revista Ofensiva (sempre com ligações ao neofascismo europeu), recebem apoios da Legião Portuguesa e de altos dirigentes da PIDE, Zarco vive constantemente em fricções com os outros elementos da direcção. Aparece depois uma outra publicação, Ataque, que não terá projecção, e o movimento envolve-se em contenda com os grupos de esquerda em meios universitários, assaltando mesmo a Sociedade Portuguesa de Escritores, depois da atribuição de um prémio a Luandino Vieira. Os problemas do Jovem Portugal serão infindáveis, até porque Zarco vai propor o Nacional-Sindicalismo (cópia das doutrinas de Primo de Rivera) como a única oportunidade face ao marxismo e ao capitalismo. O que na verdade se estava a passar era os neofascistas sentirem a abertura do regime de Salazar ao capitalismo internacional como tentativa de modernização, o que eles consideravam intolerável. Mais próximo do regime estava a FEN – Frente dos Estudantes Nacionalistas, que também teve uma história curta e que implodiu por incapacidade de diálogo entre as suas facções. O regime queria organizações nacionalistas respeitáveis susceptíveis de atrair a massa estudantil apolítica e à PIDE interessava uma organização operativa até com capacidade para recolher informações no ambiente estudantil. Outra organização que surgiu ao tempo das lutas emancipalistas em Angola foi o Jovem Europa, copiado de uma experiência belga e que constituía numa proposta de um nacionalismo revolucionário europeu capaz de conter as superpotências instaladas no Continente. Todos estes grupos tiveram más relações entre si, agrediam-se nas suas publicações e nunca foram capazes de estabelecer em concreto uma plataforma ideológica. Coimbra constituiu um caso aparte no fenómeno nacional-revolucionário. É no meio académico que nasce a revista Combate a que está ligado Valle de Figueiredo, nome importante do neofascismo português, colaborador das revistas 57, Cidadela e Itinerário, esta, dirigida, entre outros, por João Conde Veiga, autor de uma poesia importante para estes neofascistas:

Não fugi à guerra, não fui para Paris,
Não fugi da terra, não traí o povo,
Eu fui ao combate debaixo do sol
E voltei de novo

Posso aquecer-me com o sol mais quente,
Que me enche as veias, vinho de raiz,
Não se vai à guerra e volta de novo
Sem se sentir dentro a voz do país.

Riccardo Marchi explica detalhadamente toda a luta do movimento associativo coimbrão, nas diferentes fases da crise académica, e revertendo sempre para a noção de Império, questão central destes movimentos neofascistas. Após identificar um conjunto de organizações menores da direita radical, o autor detém-se no semanário Agora, igualmente subsidiado pelas forças do regime. O anti-semitismo e o antiamericanismo vão ser duas constantes do jornal, várias vezes suspenso pela censura, Salazar não aceitava este excesso de críticas. Em Coimbra, os neofascistas ganham novo alento com o aparecimento de dirigentes mais jovens como José Miguel Júdice, Cruz Vilaça e Lucas Pires. Igualmente a vida deste movimento é pormenorizada tal como a revista Cidadela e o Centro de Estudos Sociais Vector, este de âmbito mais alargado e com sede em Lisboa. No fim da década de 60 surge a revista Política cujo director será Jaime Nogueira Pinto, sempre com apoios do regime (por exemplo, assinaturas feitas pela PIDE/DGS). “Política” procura um grande arco político do nacionalismo português, apresenta-se como uma frente nacional fiel ao Ultramar, contestará a tendência liberal de Caetano e os seus projectos da reorganização ultramarina, com certa tinta emancipadora. Com tónica menor, o autor regista ainda como expressões das direitas radicais o Movimento Vanguardista e o periódico Vanguarda (financiados pela PIDE) e finalmente o I Congresso dos Combatentes, a última batalha dos nacionais-revolucionários. Este valioso estudo de Riccardo Marchi permite captar em cheio o que foram as minorias em que se organizaram as direitas radicais e como, de um modo geral, estabeleceram um relacionamento equivoco com os regimes de Salazar e Caetano. Tiveram poucos ideólogos de grande mérito, a sua grande maioria desapareceu ou está agora inactiva. Na ribalta, devidamente reciclados, estão José Miguel Júdice e Jaime Nogueira Pinto. O que os uniu sempre foi um princípio intransigente, o de nunca querer sacrificar o Império, espírito e forma do “Portugal eterno”.

Mário Beja Santos

Sinopse

Riccardo Marchi, neste excelente livro, conta-nos a história política e cultural deste segmento político e cultural, pequeno mas decisivo nos confrontos ideológicos da fase final do Estado Novo. Destes «vencidos» que - e cito as suas palavras finais - não estavam «dispostos a sacrificar, com a agonia do regime, o eixo central do seu próprio imaginário colectivo: o Império, espírito e forma do "Portugal Eterno".»

Império, Nação, Revolução de Riccardo Marchi

O Diabo [09-02-2010]

Uma história ainda por fazer

Rompendo o silêncio que tem caído, como uma cortina de ferro, sobre os movimentos nacionalistas portugueses do século XX, Riccardo Marchi publicou há pouco “Império, Nação, Revolução” – uma obra de sabor académico com 400 páginas (Texto Editora, 17 euros).
À primeira vista, estamos perante um estudo exaustivo das organizações “nacional-revolucionárias, neofascistas e de direita radical” actuantes no nosso País entre 1959 e 1974. Mas só à primeira vista. De facto, este livro abre inúmeros caminhos de investigação, mas pela sua superficialidade não passa de um índice para um verdadeiro trabalho histórico que está ainda por fazer.
Riccardo Marchi, um voluntarioso investigador de 36 anos de idade, faz a sua licenciatura em Pádua com uma tese sobre o Estado Novo português e dai lhe veio a ideia de um doutoramento no ISCTE sobre a direita revolucionária portuguesa, de que este livro é a súmula.
Mas as suas opções de fundo são questionáveis. Desde logo, porque iniciar o seu estudo em 1959? Faria muito mais sentido uma boa introdução sobre o pensamento nacionalista português do século XX (incluindo a Cruzada Nun’Álvares, o Integralismo Lusitano, o Nacional-Sindicalismo, a Legião Portuguesa e a Mocidade Portuguesa), iniciando-se a narrativa no muito mais marcante ano de 1946, quando Caetano de Melo Beirão, Amândio César e António José de Brito iniciam a sua colaboração na “Mensagem”.
Em vez disso, Marchi envereda por um estudo cómodo sobre as publicações dos movimentos da Direita revolucionária – isto é, apenas sobre o material impresso -, necessariamente pontuado por longas citações e sem nos dar conta da “vida real” desses movimentos. Frequentes remissões para trabalhos dos autores esquerdistas Fernando Rosas e António Costa Pinto não ajudam a uma compreensão “por dentro” do tema da sua tese.
É certo que pelas páginas de “Império, Nação, Revolução” passam as publicações “Tempo Presente”, “Agora”, “Cidadela”, “Combate”, “Via Latina” e “Política”, o Circulo de Estudos Alfredo Pimenta, o Movimento Jovem Portugal, a Frente dos Estudantes Nacionalistas, o Movimento Jovem Europa e grupos de combate como os “Centuriões” e os “Viriatos”, mas tudo num registo tipo “relatório de ocorrências”, sem alma e sem chama. De um tema empolgante, o autor consegue fazer uma monumental maçada cronológica, a que não faltam erros factuais e inexactidões linguísticas. A começar pelo inaceitável “serrar fileiras” da primeira página do texto – erro crasso de que encontramos inúmeros cambiantes, ao longo do livro, e exigir revisão de mestre-escola.
Apesar de todos os “senão”, o trabalho de Marchi abre caminho na floresta virgem que é o tema da Direita Portuguesa. Falta agora vir alguém que, a partir deste “menu”, faça realmente História.