Professor António José de Brito - II [20.04.2010]

Passemos ao Folhas Ultras.

Creio que a p. 69 há um lapso de relativo vulto.
Escreve você: “na esteira dessa polémica” (em volta do artigo “Toque de Clarim”) “o grupo” dos amigos bracarenses “organiza a primeira conferência em Braga” de Alfredo Pimenta.
Ora, a primeira conferência, nessa cidade, de Alfredo Pimenta teve lugar em 11 de Março, intitulando-se “Mestres do Pensamento”. E o artigo “Toque de Clarim”, como você mesmo o diz apareceu no semanário “Acção”, em 1 de Setembro desse ano.
Impossível claro que tal primeira conferência tivesse qualquer conexão com um artigo que só veio à luz meses depois.

A p. 71 temos o seguinte: “A geração de 70 é constituída pelo grupo de intelectuais que operam entre 1871 e 1888 (nascida oficialmente do grupo dos Vencidos da Vida)”. Acabar em 88 com a actuação da geração de 70 é pelo menos estranho. E que tem o grupo, exclusivamente jantante e mundano, dos Vencidos com a geração de 70?
Houve membros da geração de 70 que nunca foram Vencidos – Teófilo Braga, Adolfo Coelho, Salomão Saragga – e Vencidos que nunca pertenceram a essa geração – Carlos Lobo de Ávila, pelo menos.

A p. 154 leio: “´Queiram Entrar…´ (dedicada às críticas contra o jornal Diário Nacional, órgão da Causa Monárquica que dispensou a colaboração de Alfredo Pimenta”. Não sei se o Diário Nacional era ou, propriamente, órgão da Causa Monárquica, mas não é isso que interessa. O que parece é que o verbo dispensar é o seu tanto equívoco; pode levar a supor que Alfredo Pimenta colaborara anteriormente em tal gazeta. Aliás, no ´Queiram Entrar…´ Pimenta não atacou exclusivamente os dislates monárquicos-democráticos do referido diário. Na secção em causa vemos, por exemplo, uma rude crítica à “Alocução aos Socialistas” de António Sérgio e um protesto contra as palavras de Eva Perón atribuindo a espanhóis a primeira travessia aérea do Atlântico, esquecendo o voo de Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

A propósito do que afirma a p. 185 de Salgado Zenha, recordo que este foi nomeado pelo ministro da Educação Nacional, presidente da Comissão Administrativa da Associação Académica e só depois começou a bradar que precisava da eleição dos colegas. Quando ocorreu o episódio de que você fala não tinha recebido a “benção” democrática. Não esquecer que, nessa altura, Zenha era um comunista confesso. Estava algo de podre no reino de Salazar.

Sobre o “factor Pimenta” já disse o que tinha a dizer. Você continua na sua e está no seu direito.

Que em Portugal não tenham surgido grupos como os neo-maurrasianos ou os neo-falangistas (vários) só me parece um favor do céu. A respeito das fantasias emergidas na República Social Italiana (Spampanato, Rolando Ricci, etc) nem é bom falar. Julius Evola já as desvalorizou suficientemente embora ele – que se não considerava um fascista ortodoxo – tivesse igualmente as suas extravagâncias, uma delas bem lastimável que era a aceitação como dogma do chamado holocausto como realidade histórica (isto sem falarmos do seu ódio a Giovanni Gentile, de certo por causas pessoais que ignoro, da sua reverência por Benedetto Croce, e de certas esoterices, e da interpretação que dá ao conceito de Estado Ético).

E a finalizar, repito, a minha apreciação global do seu livro. É, de facto, excelente, o que é óbvio não implica concordância plena com o que nele diz.
Desculpe o desalinhavado desta carta. Renovo os meus agradecimentos.

As saudações de braço ao alto do sempre fascista

António José de Brito

3 comentários:

  1. É sempre com emoção que leio as palavras sábias do Professor Doutor António José de Brito. A filosofia da verdade cultivada no seu tempo foi trocada pela filosofia da utilidade, a primeira servia os homens, a segunda serve-se dos homens. Bem-haja por ter exposto aqui estas linhas do grande filósofo português. O insuperável sempre!

    Cumprimentos,

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  2. É sempre com emoção que leio as palavras sábias do Professor Doutor António José de Brito. A filosofia da verdade cultivada no seu tempo foi trocada pela filosofia da utilidade, a primeira servia os homens, a segunda serve-se dos homens. Bem haja por ter exposto aqui estas linhas do grande filósofo português. O insuperável sempre!

    Cumprimentos,

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  3. Fantástico ler o António José de Brito.

    Nacionalismo sempre!
    de braço ao alto!

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