Jovem Portugal por um militante de Jovem Europa [04-10-2010]

Recebo e publico uma nota sobre o Movimento Jovem Portugal, vinda de uma testemunha directa daqueles tempos: um militante da organização Jovem Europa, autor do nome e emblema (o Doriphorus: símbolo criado por Policleto na sua obra sobre a Harmonia) do Centro de Estudos Sociais Kanon [p.124].

Foto: em 1964, a revista Ordine Nuovo do omónimo grupo neofascista italiano publica uma entrevista com Zarco Moniz Ferreira chefe de Jovem Portugal.

Existe, sem dúvida, muita documentação sobre o Movimento Jovem Portugal. É natural que se seja levado a pensar que a sua importância foi grande em Portugal. Mas a realidade é, na minha opinião, bem diversa. É evidente que teve algumas acções e certa expressão jornalística, atendendo à sua qualidade de movimento político. Todavia, a sua força era débil, e nos próprios anos 60 não conseguiu enfrentar os movimentos de Esquerda que se foram formando. Recordo-me da sua ausência numa violenta acção junto à Faculdade de Ciências de Lisboa. Não esteve presente qualquer elemento do Jovem Portugal. A actuação pertenceu a alguns militantes de Direita que não estavam organizados devidamente.

E quanto a originalidade, a criatividade do Jovem Portugal? Entendo que quase não existiu. Socorreu-se fundamentalmente das Doutrinas Fascista e Nazi, com certas adaptações. Praticava, como em qualquer Fascismo, o culto do chefe; dizia-se nacionalista incondicional, sendo ferozmente anticomunista; defendia um nacional-sindicalismo, preferindo este termo – penso eu – a Corporativismo, por táctica e por influência externa próxima. O Corporativismo em Portugal estava gasto e o Nacional-Sindicalismo era de influência espanhola; José António Primo de Rivera e as JONS (Juventudes Operárias Nacionais Sindicalistas) que o Franquismo sabotou, como em Portugal aconteceu ao Nacional-Sindicalismo de Rolão Preto. Não encontro, assim, autonomia conceptual no Jovem Portugal.

A ideia de um nacionalismo universalista ou ecuménico é uma ideia, como ideia, contraditória. Não passa de uma confusão e entendo que tem a ver com a doutrina de Salazar sobre a integração portuguesa, com os povos de Timor ao Minho, na qual eu penso que nem ele acreditava, pois é abstracta, desligada e mesmo contrária à tradição colonial portuguesa, fundamentalmente militar.

A juntar, outro conceito nebuloso: o tratamento, a abordagem do capital e do capitalismo. Este ou é de Estado ou de Associação, como é sabido. Pretender que aquele seja baseado nos trabalhadores, no nacional-sindicalismo, parece-me utópico; se outras razões não houvessem, havia – e há – a de que um trabalhador, um sindicalista, é sempre um futuro capitalizador, pretende vir a participar do capital. Por outro lado, a ideia implícita da Justiça Social é muito diferente hoje - e já era nos anos 60 – da existente antes da I Guerra Mundial, no tempo em que se levantaram Fascismo e Comunismo, Doutrinas com finalidades semelhantes, totalitárias e de massas.

No princípio do século XX, ser trabalhador era sinónimo de exploração sem remédio: baixo ou baixíssimo poder de compra, descendo até à fome, fome mesmo. Do lado oposto estavam os ricos, os proprietários. Hoje quem detém a propriedade não é necessariamente rico. Há empregados por conta de outrem, que não são proprietários de coisa nenhuma, que têm muitíssimo mais rendimento que proprietários de bens imóveis e mesmo móveis. Foi esta realidade que principalmente enfraqueceu os Partidos Comunistas, que continuam a dizer que são os Partidos dos Trabalhadores, mas não são. Foram. Quero dizer, eles podem continuar a dizer que os seus apoiantes são os trabalhadores, mas isto é uma questão semântica: o mesmo que dizer que alguém é fidalgo ou nobre hoje, e dizê-lo no século XIX, sem falar no XVIII. Claro que os Partidos Comunistas e Neofascistas até podem voltar a ter peso, mas com um conteúdo bem diferente. Terão que prometer resolver problemas novos, porque os antigos já estão muitos, resolvidos.

Para completar o ideário do Jovem Portugal o racismo surgiu: lá estão as referências bem conhecidas em relação a judeus e gente de cor, eufemismo de pretos. Isto foram buscar ao Nazismo principalmente. O Jovem Portugal muito fiel à Filosofia onde foi inspirar-se afirmava a negação do indivíduo em favor do grupo, muito naturalmente. Havia muita estratégia e táctica que alguns dos próprios militantes sabiam que não levaria a lado nenhum. Só lhes faltou confessarem-se Nacionais Socialistas, uma vez que a raiz era afim. Mas seria demais! A Alemanha era a Alemanha, com o grupo Spartakista, com Rosa Luxemburgo, que foi origem do Partido Comunista alemão, que os Nazis tiveram que combater rijamente para juntar à sua volta a classe operária mais do que destruir as estruturas sociais.

E deste modo o Movimento Jovem Portugal acabou confundido e subordinado às instituições dependentes do Governo de Salazar, como a Legião Portuguesa. O Fascismo ou Nazismo nunca se teriam levantado sem a ligação ao Capitalismo do primeiro quartel do século XX.

17 comentários:

  1. Então as JONS eram as Juventudes Operárias Nacionais Sindicalistas? Essa é que eu não sabia...

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  2. Acredito que Onésimo não ficará ai muito ofendido. O testemunho enviado e publicado tem achegas mais interessantes para comentarios sobre a experiência de Jovem Portugal e sobre as interpretações do fascismo mais em geral.

    Mas pronto...que fique também reposta a onomástica: Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalista.

    Riccardo

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  3. «O testemunho enviado e publicado tem achegas mais interessantes para comentarios sobre a experiência de Jovem Portugal e sobre as interpretações do fascismo mais em geral.»

    Não me pareceu. Pareceu-me resumir-se ao comentário-tipo que os elementos reaccionários do "movimento nacionalista" costumam fazer aos movimentos de que não gostam: "é copiado do estrangeiro".

    Se chamei a atenção para a questão "onomástica" foi apenas para demonstrar que esses elementos normalmente falam daquilo que desconhecem.

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  4. Vamos ver se nos entendemos: quando digo que o testemunho é "interessante" não é porque o condivida, mas porque reflecte bastante fielmente as divisões que havia no meio nacionalista radical mais de 40 anos atrás entre correntes “nacional-revolucionárias” e “reaccionárias” (se assim podemos dizer). Mesmo dentro do Jovem Portugal criaram-se divergências quanto à identidade neo-fascista que o Zarco Moniz Ferreira queria dar ao movimento e o mesmo se passou em movimentos posteriores de certeza não "reaccionários" como o da Cidadela de Coimbra.
    Quanto a afirmações como “Fascismo e Nazismo nunca se teriam levantado sem a ligação ao Capitalismo do primeiro quartel do século XX” o discurso é mais complicado: a afirmação por si só é superficial e na minha opinião errada, porque nem sequer distingue entre forças nacionais do Capital e Capitalismo internacional. As primeiras nunca foram alvo de vontade destruidora por parte do Fascismo que quis pelo contrário domesticá-las nas suas tendências anti-nacionais integrando-as dentro do Estado e para o Estado como Nação politicamente organizada. O segundo, pelo contrário, foi alvo de crítica doutrinária e ofensiva política e propagandística em nome da soberania nacional.
    Repito: nesse sentido qualquer testemunho é interessante…porque com ele pode-se concordar ou discordar, mas dá sempre a oportunidade de exprimir ideias, críticas, comentários que aprofundam o conhecimento sobre a matéria e compartilham as opiniões fundamentadas de quem já reflectiu por interesse intelectual ou vivencia militante sobre o argumento. No fundo este é o objectivo do blogue.

    Riccardo

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  5. Pela minha parte, um pormenor que me deixou intrigado foi a identificação do autor do comentário como "um militante de Jovem Europa" e a posterior incidência das suas observações sobre o Jovem Portugal. Porque não fala do movimento de que se assume militante? Sobre isso deve ter um superior conhecimento de causa.
    Quanto ao teor dessas observações, só fiquei surpreendido por, tanto quanto julgo saber, a originalidade e a criatividade não terem sido mais fortes no grupo Jovem Europa do que no Jovem Portugal.
    Não desejo, porém, entrar em matéria de que não possuo conhecimento directo. O que me parece certo, pela experiência adquirida em época posterior, é que no MJP é possível encontrar muitas características que marcaram sempre, nessa época e posteriormente, outras realidades da direita radical portuguesa. Aponto como exemplo o seu carácter reactivo, o que é decisivo: uma movimentação política que surge em reacção, mobilizada por acontecimentos e processos em curso, contra os quais procura insurgir-se, agrupa fatalmente gente muito diversa, nas suas origens e orientações. O encontro resume-se apenas a serem todos do "contra qualquer coisa". Por isso a unidade é quase sempre circunstancial e efémera, ditada pelas circunstâncias, e incapaz de definir um projecto político coerente, ou mesmo de persistir para além do circunstancialismo passageiro que a determinou. No MJP é possível detectar gente formada no velho tradicionalismo português, outros que tentam introduzir modelos europeus mais em moda, outros que são apenas movidos pelos temas fortes do regime salazarista, a defesa da integridade territorial da Pátria, uma certa concepção do Ocidente, conservadora, ordeira, católica... Uns mais conservadores e outros mais revolucionários, alguns mais fascistas e outros mais monárquicos, umas pinceladas de nacional-sindicalismo e outras de salazarismo. Por vezes tudo isso coexiste, até nas mesmas pessoas.
    Nota-se que os núcleos reflectem essa diversidade; se o centro, em Lisboa, é muito marcado pela personalidade de Zarco Moniz Ferreira (o que só por si trazia uma forte limitação), é visível que esse molde não servia para os núcleos do Porto ou de Coimbra. Daí que a certa altura o MJP acabou por parecer-se com uma federação, de grupos e de personalidades, que tão depressa se fazia como se desfazia.
    A trajectória pessoal posterior dos que passaram pelo movimento veio a traduzir essa efemeridade e essa diversidade.

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  6. «No MJP é possível detectar gente formada no velho tradicionalismo português, outros que tentam introduzir modelos europeus mais em moda, outros que são apenas movidos pelos temas fortes do regime salazarista, a defesa da integridade territorial da Pátria, uma certa concepção do Ocidente, conservadora, ordeira, católica... Uns mais conservadores e outros mais revolucionários, alguns mais fascistas e outros mais monárquicos, umas pinceladas de nacional-sindicalismo e outras de salazarismo. Por vezes tudo isso coexiste, até nas mesmas pessoas. [...] A trajectória pessoal posterior dos que passaram pelo movimento veio a traduzir essa efemeridade e essa diversidade.»

    Caro Manuel, condivido em pleno esta sua fotografia da militancia de MJP.

    E aproveito para expor duas teses que tenho mas que ainda estou a verificar

    1) Na minha opinião se não tivesse eclodido a Guerra do Ultramar em Portugal nunca teriam surgidos grupos "nacional-revolucionários" ou pelo menos teriam ficado na exiguidade númerica e marginalidade política como foi o grupo intelectual da revista Mensagem di final dos anos 40.

    2) A área radical portuguesa do segundo pós-guerra (até aos nossos dias) sempre foi caracterizada por uma cultura política no fundo "de direita", "conservadora", até "contra-revolucionária". É muito dificil encontrar em Portugal aquelas influencias que brotaram da chamada "esquerda fascista" e que pelo contrário encontram-se em Espanha em certas correntes fortemente sociais do falangismo.

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  7. 1) Se não tivesse eclodido a Guerra do Ultramar em Portugal nunca teriam surgido grupos "nacional-revolucionários"?

    - Não partilho a tese. Na verdade, o quadro onde brotam os primeiros "grupos nacional-revolucionários" está perfeitamente definido em 1959, bem antes de eclodir a guerra. No início a designação surge apenas como uma etiqueta nova para os que se aceitavam como fascistas (Goulart Nogueira disse-me uma vez que não sabia muito bem o que isso era, mas para ele ser nacional-revolucionário era ser fascista; e se fosse outra coisa não queria ser...)
    Estudando o período em que se formou e apareceu a revista "Tempo Presente" (é essencial!), creio que o próprio Riccardo poria em dúvida a sua tese. O aparecimento dessas tendências mais ou menos bem definidas tem mais a ver com a progressiva fascização daqueles que tendo feito a sua formação de juventude ainda ao tempo do semanário "Mensagem", portanto formados sob o magistério de Pimenta e Beirão (pai), que era obviamente tradicionalista e contra-revolucionário, sofreram também o influxo do fascismo e da nacional-socialismo; e aconteceu que à medida que se entrou e avançou nos anos 50 foi-se tornando patente o esgotamento das fórmulas políticas, e da forma de intervenção, que era ainda a dominante no tempo da "Mensagem" (mais própria dos anos 20 e 30 portugueses). Em consequência, a sua evolução foi no sentido de uma progressiva radicalização, leia-se fascização, em detrimento da componente monárquica tradicionalista. Para isso contribuiu não só essa sensação de esgotamento das velhas fórmulas como o sentimento da sua impotência perante os novos tempos, marcados pela turbulência política. O perigo pressentido face às insuficiências do regime, os abalos da luta política interna, como foi o caso da campanha Delgado, os ventos de fora (lembre-se a França e a Argélia, aqui seguidas com muita atenção), a ameaça do comunismo internacional, tudo convergiu para essa radicalização, que se fundava portanto na convicção da impotência do mundo ocidental, dominado pelo democratismo doentio, para enfrentar os perigos que se perfilavam, bem como a progressiva degenerescência do regime (que só a pessoa do Chefe salvava da condenação total).
    Não é este o lugar para mais extensa dissertação, mas chamo-lhe a atenção para o facto de algumas das figuras mais destacadas dos tais "grupos nacionais-revolucionários"que se distinguiram no período inicial da guerra serem pessoas já ideologicamente formadas antes da eclosão da guerra. Por exemplo, o Zarco Moniz Ferreira de que aqui se tem falado não fez a sua aprendizagem política em 1961, e o José Valle de Figueiredo, embora muito jovem, já aparece como colaborador do "Tempo Presente", anos antes do "Combate" coimbrão...
    Por conseguinte, e em resumo, quer por factores internos quer por influências externas (estou a lembrar-me de um artigo de António José de Brito sobre "blousons noirs", ou das alusões literárias a Roger Nimier e aos hussardos) a fascização da franja mais activa da extrema-direita portuguesa já estava feita nos derradeiros anos 50. Não se pode afirmar que sem a guerra do Ultramar não teriam existido em Portugal "grupos nacional-revolucionários", pois que estes a precedem. Já reparou no destaque dado no "Tempo Presente" à tradução de "Enquête sur le fascisme", de Bardèche, e o que isso implica em termos de presença e influência de Maurice Bardèche e da sua "Défense de l'Occident" no movimento português?
    Só se pode falar de guerra no Ultramar em 1961, e todavia a linha política que marcou os tais "grupos nacionais-revolucionários" nesse ano e seguintes (no MJP, no "Combate", no "Agora"...) já marcava presença e estava definida em todos os seus contornos quando nasceu o ano de 1959...

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  8. Caro Manuel,

    o seu reparo que já existia uma radicalização em termos fascistas da direita radical portuguesa no final dos anos 50 (e vinda do grupo a volta de Pimenta dos 40) está absolutamente certa.

    Assim como está certo que os maiores lideres NR portugueses (Zarco e Valle de Figueiredo) já estavam na senda do neo-fascismo antes do eclodir da guerra do ultramar.

    O que eu afirmo é que sem a Guerra do Ultramar não teria havido uma mobilização e radicalização generalizada da juventude portuguesa em sentido nacionalista (e revolucionário) como aconteceu.

    Ou seja sem a Guerra não teria havido grupos como MJP ou FEN ou Cidadela capazes de reunir e mobilizar algumas centenas de estudantes, mas teria havido apenas síglas compostas por um punhado de radicais com bom nível intelectual, possivelmente publicações de qualidade do género Mensagem ou Tempo Presente, mas fraca presença nos meios académicos.

    Por exemplo quando se dá o abalo Delgado em 1958/59 não há uma reacção mobilizadora da extrema-direita. Pelo que me foi dito por Ruy Alvim, os poucos radicais limitaram-se a reuniões conspiratórias com elementos militares e de regime (Legião, Mocidade) sem grandes consequencias.

    A centralidade da Guerra do Ultramar na formação de fileiras radicais pode-se ver também nos exitos da "descolonização": acabado o míto do Império desaparece uma direita-radical "protagonista", enterrando-se ainda mais na ampla frente anti-comunista do PREC. Aqui seria interessante comparar a capacidade de mobilização e produção política do Movimento Nacionalista (MN) face ao MJP, FEN, Cidadela, etc.

    Dito isso, você teve o privilegio (que infelizmente eu não tive) de falar com o Goulart Nogueira e com certeza deve ter uma percepção mais apurada da minha do nacionalismo radical daqueles anos.

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  9. Ainda sobre a questão anterior: importa reparar nas datas de publicação original dos estudos reunidos e publicados por António José de Brito no "Destino do Nacionalismo Português", que justamente documenta a evolução intelectual que procurei referir. Tudo aquilo estava feito e dado a público bem antes da guerra do Ultramar - em nada foi determinado por ela.
    E o destaque dado no "Tempo Presente" a Robert Brasillach, a Ezra Pound, a Wyndham Lewis, ou até o ensaio sobre o pensador nacional-socialista Ernst Krieck, tudo documentando bem as leituras que ocupavam nos anos 50 o nosso "pequeno grupo de pequenos-burgueses"?
    Outra curiosidade: o Riccardo começa um dos seus trabalhos aludindo a uma fotografia em que surgem no café A Brasileira de Coimbra o José Valle de Figueiredo, o Fernando Braga de Matos, o Francisco Lucas Pires e o Luís Sá Cunha e junto deles o "Rivarol"... Claro que isso é em Fevereiro de 1964, mas o "Rivarol" era uma leitura tipicamente dos anos 50; já alimentava a nossa extrema-direita havia muito tempo.

    - Se não tivesse eclodido a Guerra do Ultramar esse grupos "nacional-revolucionários" teriam ficado na exiguidade númerica e marginalidade política?

    - Ora, pois... Sem esse grande factor de mobilização a expressão numérica e a relevância política dessas correntes teriam sido bem menores. Teriam sempre permanecido restritas aos círculos, sobretudo intelectuais, que a elas aderiam por razões estéticas, filosóficas e (finalmente) políticas. Um pequeno grupo de pequenos-burgueses, como descreveu António José de Brito...
    Assim, com a guerra, essas correntes sempre acabaram por ter expressão em meios juvenis, sobretudo universitários, e até presença no combate político imediato, com alguma militância organizada e intervenção mediática.
    Mas não exageremos: lamento ofender alguma alma mais sensível, mas raramente se ultrapassou a "exiguidade numérica" e nunca se saiu da "marginalidade política".

    P.S.- O livro do Riccardo Marchi mostra-se de vez em quando inquinado por bluffs (das fontes, evidentemente) que me pareceram desnecessários (podiam ser justificáveis na luta política dos anos 60 e 70, mas para fazer História não).

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  10. «Sem esse grande factor de mobilização a expressão numérica e a relevância política dessas correntes teriam sido bem menores.»

    Caro Manuel, com esta sua última afirmação posso dizer que concordo plenamente com a sua análise: desde a centralidade da fonte fascista em certo nacionalismo radical pré-guerra até a "exiguidade numérica e marginalidade política" persistente.

    Interessa-me muito o seu reparo sobre os "bluffs das fontes": a quais se refere? Digo-lhe já que tive bastante problemas em averiguar uma boa percentagem do que encontrei nas fontes escritas...e orais.

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  11. "O que eu afirmo é que sem a Guerra do Ultramar não teria havido uma mobilização e radicalização generalizada da juventude portuguesa em sentido nacionalista (e revolucionário) como aconteceu."

    - Dito assim, já entendo que podemos estar mais ou menos de acordo. É muito diferente do que afirmar que sem a guerra do Ultramar não teriam existido em Portugal grupos reclamando-se "nacionais-revolucionários".

    "Interessa-me muito o seu reparo sobre os "bluffs das fontes"...

    - Neste ponto, tenho alguma atrapalhação em responder. Logo que li "Império, Nação, Revolução" senti e lamentei a enorme dificuldade que é investigar numa área onde frequentemente aqueles que podiam esclarecer não querem ajudar, por diferentes razões, e os que se apresentam a colaborar nem sempre são os mais fiéis transmissores da realidade. Não fazem por mal, mas algumas pessoas viveram muito intensamente as suas fantasias e ainda vivem nelas. Mas desmenti-los é inevitavelmente ofendê-los, e eu também não queria incorrer nesse pecado. Estou a pensar em pessoas concretas que obviamente inflacionaram as realidades em que foram protagonistas, e têm tendência a apresentar simples organigramas de papel como factos grandiosos e meras siglas como organizações poderosas.
    Na verdade, custa-me, mas também vou prudentemente abster-me de entrar nessas guerras. Acresce que para falar com rigor teria que dispor de tempo (teria que examinar com cuidado o livro e ir anotando o que me parece afectado por esse vício, e fundamentar o que afirmasse)e neste momento não me é possível.
    Peço no entanto desculpa pela fuga cobarde. Talvez numa ocasião futura.

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  12. O que mais me surpreende é ver tanta conversa sobre fascismo e neo-fascismo e tão pouco ou nada sobre nacionalismo. O fascismo morreu e está bem enterrado, morreu de velho. O neo-fascismo não tem razão de ser. Não podemos continuar a discutir o "sexo dos anjos" quando o Diabo anda à solta... Salazar deixou uma herança - pesada herança - que não encontrou gente forte para a sustentar. Foi o Império, depois este pequeno rectangulo europeu em risco de se lhe seguir.
    A questão fundamental que se levanta é: iremos nós comseguir salvar Portugal, restaurar a sua passada grandeza?

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  13. O Anónimo pode ter razão, se nos esquecermos que este é um lugar destinado precisamente a falar de História... Logo, necessariamente, sendo esse o seu objecto, não pode ser surpresa para ninguém que aqui se discuta o passado, o que foi e como foi e porque foi...
    Acrescento que mesmo a quem se coloque exclusivamento nessa perspectiva futurante, de construção política, o conhecimento e a compreensão do passado não podem considerar-se coisa de somenos importância. Até porque, como escreveu um tal George Orwell, "quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado."
    E regressando ao plano meramente histórico (neste sítio não vou entrar no caminho proposto pelo estimado anónimo interpelante) ocorrem-me algumas observações sobre as suas observações.
    Em primeiro lugar, sobre o fascismo. Penso que se pode discutir se ele efectivamente morreu ou não. Há quem ache que sim, e haverá quem defenda que não. É possível defender que não morreu, apenas se transformou - como ocorre na natureza é possível dizer que na história das sociedades humanas "nada se perde, nada se cria, e tudo se transforma".
    Mas o que já me parece inaceitável é dizer que ele "morreu de velho". Isso é que não: mesmo quem entenda que ele efectivamente morreu dirá certamente que poucos fenómenos históricos morreram assim em plena juventude, após tão curta vida, com um itinerário tão incompleto e tão indefinido que deixou para sempre lugar a mais interrogações que certezas, tanto sobre o seu possível devir como sobre a sua própria natureza e trajectória.
    Quanto a Salazar e ao salazarismo: não será, precisamente, uma questão crucial descobrir e compreender as razões porque deixando a herança que é referida não tenha todavia deixado herdeiros nem legatários? O intrigante fenómeno da ausência de continuidade, da aparente evanescência política dessa falada herança, que de repente parece ter desaparecido no ar, é um mistério que condicionou certamente a evolução histórica que vivemos, desde o desaparecimento físico de Salazar, e cuja compreensão em muito ajudaria a perceber a situação actual. E obviamente que entender plenamente como aqui chegámos até pode revelar-se de grande utilidade para descobrir uma forma de daqui sairmos. Mas isso já são outros contos.

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  14. 2) A área radical portuguesa do segundo pós-guerra (até aos nossos dias) sempre foi caracterizada por uma cultura política no fundo "de direita", "conservadora", até "contra-revolucionária". É muito dificil encontrar em Portugal aquelas influencias que brotaram da chamada "esquerda fascista" e que pelo contrário encontram-se em Espanha em certas correntes fortemente sociais do falangismo.

    - Sim, creio que sim. Compreende-se isso, ao verificarmos quer a formação intelectual quer a composição social dos meios de "direita radical" durante o período que vai de 1945 até à década de 70. Mas julgo que RM no prosseguimento dos seus trabalhos vai ser obrigado a estabelecer uma fronteira diferenciadora, um antes e um depois...
    Com efeito, em 74, 75, 76... quem militava nessa área política ainda era formado no mesmo caldo de cultura que vinha de antes do 25 de Abril (mesmo os mais jovens, visto que estes, entrando na política por reacção à revolução e ao processo revolucionário, ainda tinham como referência as coordenadas mentais e as palavras de ordem fornecidas pelos mais velhos, que fizeram a ponte). Porém, passado o processo revolucionário, concretamente quando entramos nos anos 80, encontra-se uma realidade que é profundamente diferente, do ponto de vista sociológico e do ponto de vista ideológico.
    Encontramos pela primeira vez um radicalismo "suburbano", de jovens desenraízados, cujas referências culturais radicam mais num universo anglo-saxónico (esta geração é a primeira que conhece o inglês e desconhece o francês, facto essencial para entender as suas influências externas).
    Se analisarmos quem constituía o MAN no período da sua maior expansão ou quem tem dinamizado o PNR nos seus momentos mais dinâmicos, ou, melhor ainda, a Frente Nacional, ou o importante Forum Nacional, dos anos recentes, percebemos que estamos perante uma realidade diferente, no que se refere a crenças, formação, motivações, origem social... enfim, a cultura política dominante é outra, a base de recrutamento é inteiramente diferente.
    Em suma, creio que o RM vai descrever uma "direita radical da democracia" com contornos substancialmente alterados em relação aos que a antecederam, no período pré 25/A e na fase de perturbações pós revolucionárias, até à estabilização do pantanal democrático.
    Essas diferenças não nascem obviamente de influências da chamada "esquerda fascista" ou do falangismo mais social, até porque as leituras desta nova "direita radical" não passaram por esses universos. Embora possam ter chegado a alguns pontos em comum.
    Não me vou alongar mais, sobretudo porque me sinto incomodado com esta monopolização da tribuna (gostava de ver aqui muito mais gente a participar). Mas fica esta nota para reflexão.

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  15. Caro Manuel,

    concordo mais uma vez com a sua análise acerca da dicotomia que se criou no meio NR portugues nos anos 80.

    Felizmente tive a oportunidade de estudar o processo do MAN presente no Tribunal Constitucional, cujos dados valiosos deram-me a possibilidade de caracterizar de uma forma científica a militancia da extrema-direita portuguesa no final dos anos 80 comparando-a com a dos 70, evidenciando o processo de certa "proletarização" socio-cultural da militancia.

    Desta análise surgiu um artigo numa revista anglosaxonica dedicado ao MAN e à mudança que representou na extrema-direita portuguesa:

    http://www.informaworld.com/smpp/content~db=all~content=a925281341~frm=abslink

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  16. As "JONS" eram as "Juntas de Ofensiva Nacional-Sindicalistas".

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  17. Las JONS no significan "Junta Obreras (operarias en portugués) Nacional-Sindicalistas", sino "Juntas de OFENSIVA (Ataque em portugués, de ahí la coherencia de Moniz Ferreira))...) Nacional-Sindicalistas...
    Y Franco no saboteó ningún programa revolucionario de la Falange: eso es una mentira de los neofalangistas y de los neofascistas.
    Basta con leer las Obras de Franco, publicadas por Editora Nacional, para darse cuenta del carácter revolucionario del régimen de Franco...

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