Jornal de Notícias [03-10-2010]

Na edição de ontem, domingo 3 de Outubro, do Jornal de Notícias saiu o artigo sobre a extrema-direita europeia, "Votos que expressam os medos" (p.50), com algumas análises minhas que o jornalista retirou de uma longa conversa telefónica que tivemos.

Apresento, aqui, dois excertos das minhas análises e peço aos leitores do blogue que enviem os seus comentários, em particular sobre o caso do PNR. A contribuição dos militantes/simpatizantes é particularmente bem vinda.



5 comentários:

  1. No excerto, diz que em Portugal não existe "imigração massiva" (?!)
    Isso não é verdade, basta observar a periferia de Lisboa para ser perceber isso, que estamos a ser invadidos e a "extrema direita" defende a nossa nação, a nossa identidade, a nossa estirpe para que no futuro não sejamos minoria na nossa própria terra. Apenas isto.

    Cumprimentos

    ps. li o Livro Folhas Ultras e gostei.

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  2. Caro Anonimo,
    obrigado pelo seu comentário. Quando digo que em Portugal não há imigração massiva refero-me ao territorio nacional no seu conjunto, onde a taxa de incidencia de comunidades imigrantes é bastante reduzida.

    O reparo que voce faz acerca das "periferias" faz sentido, de facto, referi ao Jornal de Notícias que a agenda política de um partido de extrema-direita em Portugal poderia talvez ter sucesso em eleições locais de fraguesias "sensiveis" aos apelos identitários-securitários (linha de Sintra). Diga-se de passagem que nos problemas de ordem pública naquelas fraguesias o "imigrante de primeira geração" (ou seja o verdadeiro imigrante) não tem um papel relevante. Ou seja os problemas são de outra ordem.

    A nível nacional não vejo como proclamas anti-imigração ou anti-islão possam pegar em cidadãos de Faro, Beja, Evora onde as comunidades extrangeiras são reduzidas e integradas.

    ps. gosto em saber que gostou do Folhas Ultras.
    Riccardo

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  3. Não sei, francamente, quais as receitas para o sucesso de um partido de direita radical em Portugal.
    Mas as alusões do Riccardo a essa "extrema-direita nova" que surgiu em vários países da Europa faz-me levantar-lhe um outro problema, que certamente não lhe terá passado despercebido.
    Até que ponto um nacional-revolucionário pode reconhecer-se nesses aparentes êxitos?
    Essas tais forças políticas muitas vezes parecem ser apenas uma crispação do situacionismo. Não contestam nada, no sistema político ou nas sociedades em que vivem. Na verdade, até entendem que vivem no melhor dos mundos possível, e que não existe nem nunca existiu nada melhor... Aparentam-se mais com um conservadorismo exacerbado, que se insurge com veemência contra tudo o que considera ameaças ao seu modo de vida... e ao establishment.
    Como pode sentir-se nesse contexto um nacional-revolucionário? Julgo que se lembra inevitavelmente de Drieu La Rochelle, que proclamava "je serais avec celui qui foutra en l'air ce régime", ou de Robert Brasillach, que lembrava que "nós não podemos ser os gladiadores da burguesia"...
    Em que se identifica um nacional-revolucionário com a civilização coca-cola, com o lar de reformados em que a Europa se tornou, com a paneleiragem militante tipo Pym Fortuyn?
    Não, creio que o nosso nacional-revolucionário hipotético vai preferir seguir o seu caminho e caminhar pelas margens, e não seguir por aí.
    Os tais partidos de direita são obviamente outra coisa.

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  4. Caro Manuel,
    assino bor baixo a sua análise. Na conversa que tive com o jornalista apontei-lhe o erro macroscópico de ter titulado, uma semana antes, um artigo sobre Geert Wilders "sombras negras pairam sobre a Europa" acompanhado por uma suastica...quando o "caso Wilders" deveu-se a suas declarações acerca da egualhança entre o Alcorão e o Mein Kampf (facto que o levou a ser processado por ódio racial...contra os musulmanos entenda-se...não conra os nazis).

    Do ponto de vista politologico é bastante evidente a tendencia de meios políticos oriundos da "velha direita-radical" (inclusive os nacionais-revolucionários) em querer conscientemente ou inconscientemente cavalgar ondas que não lhe pertencem (ou não lhe deveriam pertencer) por cultura política, ou seja as ondas do "extremismo liberal" que hoje ganha eleitoralmente em vários paises de Europa.

    Faço um exemplo recentissimo devido à minha "observação politológica": no último cartaz do PNR no Marques de Pombal entre os porcos que se lançam ao seio de Portugal há um rotulado de "Estado". Posto assim a mensagem é claramente de matriz neo-liberal porque o que o PNR denuncia (ou aparenta denunciar) não é a ocupação do Estado por parte de uma burocracia parasitária, ou de umas elites políticas patritocrática, mas o Estado mesmo como entidade supostamente alheia à Nação.

    Um partido com a cultura politica do PNR deveria fazer uma campanha por libertar o Estado (entendido como Nação politicamente organizada) do parassitismo dos partidos, das burocracias, dos caciques, das elites financeiras, etc.

    Ou seja deveria pedir mais (e melhor) Estado, não menos Estado indo atraz de discursos políticos estilo Lega Nord, Partido para a Liberdade, etc etc

    Este discurso de "apologia do Estado" como é óbvio hoje não paga em termos de exitos eleitorais, sendo que o Estado é objecto de uma pesada ofensiva mediatica e propagandistica.

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  5. As direitas portuguesas portuguesas perderam há muito o hábito do debate ideológico, ou nunca o tiveram. Não gostam de questionar-se, de reflectir sobre si mesmas, de pôr-se em causa. Deixam que sejam os outros a falar delas, e a traçar-lhe o retrato. Isto constitui uma inferioridade enorme no campo cultural, com consequências terríveis no terreno político. Em matéria de ideias a esquerda está sempre em vantagem, marca a agenda, e a direita limita-se a reagir defensivamente.
    Um bom exemplo é a espantosa falta de reacção (digo falta de reacção, nem sequer digo colaboração) em face deste blogue, e dos trabalhos publicados pelo RM (que têm sido largamente ignorados, como o foram os trabalhos de Costa Pinto ou João Medina).
    É preciso mudar isto, e a primeira mudança é de atitude.
    *
    Dito isto, faço ainda uma observação: por si só, a vontade de "cavalgar ondas que não lhe pertencem" não me parece necessariamente errada. O importante é conseguir mesmo cavalgar a onda, ou seja dominá-la e aproveitá-la, em vez de ser simplesmente arrastado por ela. Acredito que neste momento na Europa existem as duas situações, uns a querer cavalgar as ondas que aparecem e cuja energia pode ser útil para as causas que servem, e outros apenas a deixar-se levar e a ser engolidos pelas ondas mais em moda.

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