
Movimento Vanguardista - acerca de uma fotografia [10-12-2010]

Jovem Europa [09-12-2010]
Cerca de 1965 tive notícias dum Movimento Político dirigido por um belga – Jean Thiriart – o Jovem Europa. Aproximei-me daquele, mas tive sempre dificuldade em entender com nitidez o seu objectivo essencial.
Era de Direita, mas apresentava-se como sendo duma Direita especial, inovadora. Mas parecia-me que tinha qualquer coisa de Poujadismo. Afirmava-se profundamente europeu, o que me agradava. Quanto ao Poujadismo, este pareceu-me sempre inconsistente e populista, portanto destinado a desaparecer em pouco tempo. Um epifenómeno. Já não se estava no período de Entre Guerras! Mesmo com esta convicção permaneci no Jovem Europa. Participei na fundação da Revista da Organização em Portugal, chamada Europa; que não viu a luz do dia, tanto quanto sei [na verdade Europa saiu em número único no ano de 1968 n.d.r.] . Os obstáculos da Censura foram muitos.
Recordo-me bem das minhas conversas com o número dois dos Serviços de Censura de Lisboa, o velho tenente Jorge de Carvalho, penso que um antigo Sidonista, que como autoridade policial teve intervenção no caso célebre do Angola e Metrópole. Aquelas conversas foram o processo de dizer não às nossas intenções.
Abandonei o Jovem Europa quando me apercebi que se pretendia organizar uma milícia.
Eu já tinha lido e relido A Técnica do Golpe de Estado de Malaparte; e, além do mais, tinha na altura sido um dos signatários do Manifesto dos 101. Assim não deveria continuar ligado ao Jovem Europa. Seria incoerente.
O meu relacionamento com a Organização deveu-se inicialmente parecer-me ser esta capaz de ajudar a diminuir o marasmo político, social e económico em que o País vivia. Aqui permaneci também dada a presença de um colega, Armando Costa e Silva, a que me ligavam laços de Cultura, e que foi um dos principais pensadores da Extrema-direita, embora não tivesse escrito quase nada sobre este assunto. Debatemos em longas conversas muitos problemas do tempo.
As raizes profundas não gelam? [2º dia de trabalhos]
A moderação do painel esteve a cargo de Goffredo Adinolfi (CIES-ISCTE)
As raizes profundas não gelam? [1º dia de trabalhos]






Hóspede de um Dissidente [25-11-2010]

1. O que te levou a organizar este Seminário sobre as ideias e percursos das direitas portuguesas?
Quando há cinco anos atrás comecei a interessar-me de direitas portuguesas nas minhas investigações de doutoramento sobre as “direitas radicais”, procurei em primeiro lugar um instrumento bibliográfico que me proporcionasse uma panorâmica do tema geral na qual poder colocar, do ponto de vista histórico e ideológico, o tema específico das minhas investigações. Procurei e não encontrei. Ou seja, havia uma falha na bibliografia portuguesa. Essa ocupou-se (e ocupa-se) de períodos e acontecimentos históricos determinados ligados a esta ou aquela direita, mas nunca procurou (que eu saiba) desenhar uma genealogia de conjunto desta família política, pelo menos desde a formalização histórica das etiquetas de “direita” e “esquerda”. Desde então fiquei com a vontade de resolver este estímulo intelectual, mas ao longo dos anos de doutoramento e nos primeiros de pós-doutoramento nunca tive a oportunidade de o fazer. Finalmente decidi-me e fi-lo, por enquanto, em forma de conferência. Estou a trabalhar na organização pelo menos desde Fevereiro, pois quis reunir peritos de cada área específica das direitas que permitam desenhar um fil rouge desde o miguelismo contra-revolucionário até ao liberalismo dos nossos dias. Como é óbvio, não procuro uma lógica unívoca que conecte coerentemente tudo o que se moveu na direita em Portugal nos últimos 200 anos. Procuro sim identificar quais raízes afundam no terreno das ideias das direitas portuguesas e, a partir desta pluralidade, pretendo desvendar quais frutos produziram, se ainda são fecundas ou se, pelo contrário, secaram de vez. O intuito final dos dois dias será produzir uma colectânea com as contribuições dos oradores e de outros autores: uma fonte para os apaixonados de pensamento politico e principalmente um instrumento de orientação para jovens investigadores que se queiram debruçar sobre estes temas.
2. O que distingue actualmente uma pessoa de Direita?
Pergunta de um milhão de dólares! Digo já que não vou responder à tua pergunta, mas aproveito para fazer algumas considerações.
Não posso responder porque, em primeiro lugar, não existe “uma pessoa de direita” visto não existir “uma direita” mas “muitas direitas”. Faço-te apenas quatro exemplos retirados da actualidade para sublinhar a impossibilidade de definir de forma unívoca “uma pessoa de direita”.
Em relação ao Estado, há direitas que apelam à centralidade do Estado entendido como comunidade politicamente organizada, mas há também direitas que advogam o Estado mínimo em nome da defesa e primazia do indivíduo face à comunidade.
Em relação à cidadania, há direitas que defendem uma visão contratualista da sociedade e portanto a inclusão nela de todos os que trabalhem, paguem os impostos e respeitem as leis. Mas há também direitas que reclamam (consciente ou inconscientemente) uma visão imperial (não confundir com “imperialista”) e entendem que a nação é uma comunidade de destino na qual se devem poder integrar todos os que acreditam e se comprometem neste caminho comum independentemente das suas origens. Há finalmente direitas que consideram esta comunidade exclusiva dos que partilham determinadas origens étnicas e culturais e portanto excludentes dos elementos alógenos nos seus direitos de cidadania.
Em relação aos chamados “direitos civis”, há direitas que defendem o princípio da laicidade e do respeito e reconhecimento legal da livre escolha do indivíduo em matérias sensíveis como a orientação sexual e a bioética; e há direitas que, em defesa deste mesmo princípio de laicidade, apelam à restrição de comportamentos individuais que consideram ostensivos e ofensivos da mesma laicidade, como por exemplo certos hábitos religiosos. Há finalmente direitas que julgam certas expressões de laicismo como extremistas e atentatórias dos costumes, tradições, valores dominantes da comunidade, apelando, por exemplo, à defesa do modelo de família tradicional e ao direito à vida.
Em relação à geopolítica, há direitas que se sentem parte integrante de um modelo (o Ocidental) caracterizado por uma estrutura económica (liberal-capitalista) e por um sistema político (democracia) bem determinado, representado pelo eixo Estados Unidos–Europa-Israel, mas há também direitas que consideram o Ocidente não uma pátria comum ameaçada, mas sim uma área de dominação político-económico-militar norte-americana em fase de expansão contínua em detrimento de outros povos e civilizações (inclusive a europeia).
À luz destas rápidas considerações (muitas outras poderiam ser feitas), torna-se mais fácil perceber a impossibilidade de definir o que distingue actualmente uma pessoa de direita. Pode-se dizer que uma pessoa é de direita quando apresenta um pendor estatalista, anti-ocidentalista, integracionista. Mas também quando apresenta um cariz liberista, ocidentalista, laicista e assimilacionista. E também quando se demonstra anti-europeista, “welfare-chauvinist” e tradicionalista. Enfim, podemos teorizar (e encontrar na realidade do dia a dia) qualquer mistura destes “ismos”; misturas que afastam algumas “direitas” de outras “direitas” ao passo que as aproximam desta ou daquelas “esquerdas”. Por esta razão, o exercício melhor não é perguntar a uma pessoa “você é de direita?”, mas sim “você o que acha acerca de…?”. Exercício que, diga-se de passagem, ajuda a evitar companhias indesejadas e assumidas apressadamente em nome apenas de etiquetas banalizadoras.
3. Existe realmente uma Direita em Portugal? Depois de 1974 passou a ser quase um crime ser de Direita e mesmo no hemiciclo o partido que se senta mais à direita diz pertencer ao Centro.
Atenção: também o Estado Novo nunca se definiu um regime de direita, pois achava perigoso e anti-nacional oficializar uma dicotomia que acabaria por dividir a unidade orgânica da nação que o regime tanto prezava. Certa hipocrisia da linguagem política é transversal a todos os regimes, qualquer seja a sua orientação e tipologia.
Em relação ao pós-25 de Abril, estava mesmo a comentar alguns dias atrás com um colega como seja engraçado o facto que todos os partidos portugueses à direita do espectro político tiveram a necessidade de incluir a denominação “democrático” no seu nome: Partido Social Democrata, Centro Democrático Português ao passo que nenhum partido de esquerda teve que fazer isso apesar de 2 em 3 (BE e PCP) estarem abertamente contra o modelo de “democracia ocidental” em vigor praticamente desde a fundação do regime democrático português. Há, como é óbvio, razões históricas sobejamente conhecidas que explicam este fenómeno, que, para além disso, não é uma exclusiva da relativamente jovem democracia portuguesa. A história da direita parlamentar do meu país (Itália) é feita de 50 anos de fuga ao rótulo “de direita” por parte das suas expressões moderadas (Partito Liberale) e de utilizo do termo “direita” por parte do partido herdeiro do Fascismo (Movimento Sociale Italiano) principalmente para evitar o rótulo oficial de “fascista”. Mais, o MSI, após ter representado por 50 anos, ininterruptamente e no parlamento, 2 milhões (4%) de eleitores fascistas, acabou com definir-se anti-fascista uma vez alcançado o poder em meados dos anos 90. Se é compreensível abandonar o rótulo de “fascista” uma vez que se passa a representar já não 4% mas 13% do eleitorado, definir-se “anti-fascista” apesar da própria história é pelo menos de mau gosto.
Esta comparação Itália-Portugal serve para sublinhar que organismos como os partidos, supostamente representantes máximos das liberdades políticas dos cidadãos, estejam há décadas reféns de condicionalismos históricos e de “ditaduras intelectuais” do politicamente correcto, contribuindo assim a desvirtuar aqueles mesmos princípios básicos que afirmam defender.
Felizmente a história das ideias (enfoque da conferência de 29-30 de Novembro) deve preocupar-se em descrever e explicar estes fenómenos sem procurar nenhum consenso eleitoral, razão pela qual posso deixar estas pruderie terminológicas aos competidores eleitorais.
Dito isto, a conferência não tem nenhum objectivo de legitimação do termo “direita”, pelo menos nas intenções do seu organizador…ou seja, eu. Francamente, do ponto de vista das ideias, nunca consegui raciocinar em termos de “legitimidade” ou “ilegitimidade”. Por outro lado, do ponto de vista da acção política, a legitimidade não a considero uma dádiva, mas uma conquista.
4. As diferenças entre Esquerda e Direita tenderão a diluir-se no futuro?
Depende do que entendem por “Esquerda” e “Direita”. Se falam dos partidos mainstream, sem dúvida as diferenças vão diluindo-se. Este é um processo já em curso há algumas décadas e acompanhou a agonia das ideologias. Para além disso, hoje em dia os decisores políticos nacionais estão cada vez mais dependentes de condicionalismos supranacionais de diferentes níveis (desde a União Europeia, à Aliança Atlântica, à ONU, etc.) em quase todas as áreas antigamente exclusivas da soberania nacional. Por essa razão os partidos que pretendam realisticamente aceder ao poder sabem a partida que têm que acatar com princípios, perspectivas, regras, normas, compartilhadas nestes patamares supranacionais. E fazem-no sem grandes dificuldades. São socializados politicamente nestes princípios e, nos cada vez mais raros casos em que não acedam à “alta política” já compartilhando estes princípios, a aproximação às esferas do poder habitua-os rapidamente a este esbatimento das diferenças.
Não se trata todavia de uma inevitabilidade finalística. Felizmente com o sistema demo-liberal não chegámos ao fim da história nem ao melhor dos mundos possíveis, razão pela qual o homem continuará a elaborar ideias políticas e a sonhar e realizar sistemas de convivência. Estas elaborações e realizações vivem amiúde acelerações repentinas devidas a momentos de crise ou oportunidades inesperadas, o que me leva a pensar que poder-se-ão criar novas dicotomias ou, melhor, novos cenários plurais refractários à convergência “catch-all” que caracteriza os nossos dias. Estes novos cenários possivelmente não se desenharão nas antigas dicotomias direita/esquerda, mas em novas sínteses, contaminações, encontros, definições: a história está cheia destas nascenças.
5. Há futuro para a Direita em Portugal?
Esta já não é pergunta da 1 milhão de dólares mas de cartomante de feira. Estou a brincar e aceito o vosso desafio. Bom, depende a que futuro e a que direita se referem. Se falam das direitas (centro) parlamentares nada leva a crer que nos próximos anos deixem de alimentar a alternância bipartidária de governo, consolidada em Portugal desde o 25 de Abril. Se se referem às direitas extra-parlamentares – partidos ou movimentos, liberais ou radicais – nada leva a crer que possam sair da marginalidade na qual sobrevivem desde a sua fundação. Se se referem às direitas intelectuais (em todas as suas vertentes) nada leva a crer que estejam, não digo empenhadas, mas nem sequer interessadas em experimentar novas sínteses nem em jogar batalhas culturais de uma qualquer envergadura. Limitam-se e limitar-se-ão a reproduzir ideias de respeitáveis mas antigas (ou velhas?) direitas sem desafiar substancialmente o status quo das ideias já há muito estabelecidas. Para parafrasear Nietzsche, não me parece que nas direitas haja muito caos interior que permita predizer o parir de uma estrela que dança. Mas, como disse antes, a história sofre acelerações repentinas geradoras de caos e estrelas. Até lá, deixo-vos a vós julgar se e quão radioso será o futuro da direita em Portugal: cada um com os seus gostos.
6. Muito obrigado pela entrevista e boa sorte na organização do seminário. Queres deixar alguma mensagem final?
Nenhuma “mensagem final”. Só um “convite inicial”: quem puder apareça nos dias 29 e 30 de Novembro. O debate animado pelo público é o que valoriza os resultados das conferências, principalmente em temas onde há ainda muito trabalho para fazer. E obrigado pela entrevista.
Jovem Portugal por um militante de Jovem Europa [04-10-2010]

Foto: em 1964, a revista Ordine Nuovo do omónimo grupo neofascista italiano publica uma entrevista com Zarco Moniz Ferreira chefe de Jovem Portugal.
Existe, sem dúvida, muita documentação sobre o Movimento Jovem Portugal. É natural que se seja levado a pensar que a sua importância foi grande em Portugal. Mas a realidade é, na minha opinião, bem diversa. É evidente que teve algumas acções e certa expressão jornalística, atendendo à sua qualidade de movimento político. Todavia, a sua força era débil, e nos próprios anos 60 não conseguiu enfrentar os movimentos de Esquerda que se foram formando. Recordo-me da sua ausência numa violenta acção junto à Faculdade de Ciências de Lisboa. Não esteve presente qualquer elemento do Jovem Portugal. A actuação pertenceu a alguns militantes de Direita que não estavam organizados devidamente.
E quanto a originalidade, a criatividade do Jovem Portugal? Entendo que quase não existiu. Socorreu-se fundamentalmente das Doutrinas Fascista e Nazi, com certas adaptações. Praticava, como em qualquer Fascismo, o culto do chefe; dizia-se nacionalista incondicional, sendo ferozmente anticomunista; defendia um nacional-sindicalismo, preferindo este termo – penso eu – a Corporativismo, por táctica e por influência externa próxima. O Corporativismo em Portugal estava gasto e o Nacional-Sindicalismo era de influência espanhola; José António Primo de Rivera e as JONS (Juventudes Operárias Nacionais Sindicalistas) que o Franquismo sabotou, como em Portugal aconteceu ao Nacional-Sindicalismo de Rolão Preto. Não encontro, assim, autonomia conceptual no Jovem Portugal.
A ideia de um nacionalismo universalista ou ecuménico é uma ideia, como ideia, contraditória. Não passa de uma confusão e entendo que tem a ver com a doutrina de Salazar sobre a integração portuguesa, com os povos de Timor ao Minho, na qual eu penso que nem ele acreditava, pois é abstracta, desligada e mesmo contrária à tradição colonial portuguesa, fundamentalmente militar.
A juntar, outro conceito nebuloso: o tratamento, a abordagem do capital e do capitalismo. Este ou é de Estado ou de Associação, como é sabido. Pretender que aquele seja baseado nos trabalhadores, no nacional-sindicalismo, parece-me utópico; se outras razões não houvessem, havia – e há – a de que um trabalhador, um sindicalista, é sempre um futuro capitalizador, pretende vir a participar do capital. Por outro lado, a ideia implícita da Justiça Social é muito diferente hoje - e já era nos anos 60 – da existente antes da I Guerra Mundial, no tempo em que se levantaram Fascismo e Comunismo, Doutrinas com finalidades semelhantes, totalitárias e de massas.
No princípio do século XX, ser trabalhador era sinónimo de exploração sem remédio: baixo ou baixíssimo poder de compra, descendo até à fome, fome mesmo. Do lado oposto estavam os ricos, os proprietários. Hoje quem detém a propriedade não é necessariamente rico. Há empregados por conta de outrem, que não são proprietários de coisa nenhuma, que têm muitíssimo mais rendimento que proprietários de bens imóveis e mesmo móveis. Foi esta realidade que principalmente enfraqueceu os Partidos Comunistas, que continuam a dizer que são os Partidos dos Trabalhadores, mas não são. Foram. Quero dizer, eles podem continuar a dizer que os seus apoiantes são os trabalhadores, mas isto é uma questão semântica: o mesmo que dizer que alguém é fidalgo ou nobre hoje, e dizê-lo no século XIX, sem falar no XVIII. Claro que os Partidos Comunistas e Neofascistas até podem voltar a ter peso, mas com um conteúdo bem diferente. Terão que prometer resolver problemas novos, porque os antigos já estão muitos, resolvidos.
Para completar o ideário do Jovem Portugal o racismo surgiu: lá estão as referências bem conhecidas em relação a judeus e gente de cor, eufemismo de pretos. Isto foram buscar ao Nazismo principalmente. O Jovem Portugal muito fiel à Filosofia onde foi inspirar-se afirmava a negação do indivíduo em favor do grupo, muito naturalmente. Havia muita estratégia e táctica que alguns dos próprios militantes sabiam que não levaria a lado nenhum. Só lhes faltou confessarem-se Nacionais Socialistas, uma vez que a raiz era afim. Mas seria demais! A Alemanha era a Alemanha, com o grupo Spartakista, com Rosa Luxemburgo, que foi origem do Partido Comunista alemão, que os Nazis tiveram que combater rijamente para juntar à sua volta a classe operária mais do que destruir as estruturas sociais.
E deste modo o Movimento Jovem Portugal acabou confundido e subordinado às instituições dependentes do Governo de Salazar, como a Legião Portuguesa. O Fascismo ou Nazismo nunca se teriam levantado sem a ligação ao Capitalismo do primeiro quartel do século XX.
Conversando com um Leitor [30-10-2010]

As Perguntas/considerações do Leitor serão indicada em itálico e com o acrónimo CF, as minhas respotas com o acrónimo RM.
CF: Gostei muito dos seus dois livros sobre a história da direita radical em Portugal. Creio que esses livros representam um contributo valioso para a historiografia nacional e que o facto de serem escritos por um estrangeiro ainda mais valoriza esse contributo.
Dito isto, gostaria de fazer alguns comentários sobre esses livros, apesar de a minha formação académica não ser na área da história.
No que toca ao livro Folhas Ultras, parece-me que ele peca por uma ausência de contextualização do percurso de Alfredo Pimenta. Julgo que teria sido interessante fazer um resumo do percurso anterior de Alfredo Pimenta bem como do estado em que estava a direita radical em 1939, quando começa a guerra, tendo em conta o resultado da agitação nacional-sindicalista de uns anos antes. Por exemplo, qual a relação, se é que havia alguma, entre os nacional-sindicalistas e Rolão Preto, de um lado, e Alfredo Pimenta, do outro, quer antes de 1939, quer depois desse ano? Qual a relação de Alfredo Pimenta com os expoentes do Integralismo Lusitano durante as décadas de 1930 e 1940? Alguns destes assuntos são aflorados brevemente no livro mas eu creio que todo o contexto em que se move Alfredo Pimenta e a direita radical poderia estar mais bem retratado no livro. Só assim se poderia perceber, por exemplo, a evolução ideológica de Rolão Preto que começa por estar à direita de Salazar e acaba à sua esquerda, a apoiar a oposição democrática.
RM: muito obrigado pela sua e-mail. Agrada-me saber que encontrou nos meus dois livros uma leitura interessante.
O Senhor afirma que o livro "Folhas Ultras" peca por uma ausência de contextualização do percurso de Alfredo Pimenta (situação da direita radical antes de 1939 e relação com Rolão Preto e Integralismo Lusitano). De facto você tem razão. "Folhas Ultras" surge como parte introdutória aos meus estudos sobre a direita radical portuguesa nos anos 60-70, mas desenvolveu-se de tal maneira (pense aos achados sobre o percurso do jornal "A Nação" e o grupo de jovens de "Mensagem") que apesar de não representar uma obra exaustiva sobre direita radical antes dos anos 60, mereceu uma publicação autónoma, devido também à diferença organizativa e doutrinária da direita radical dos anos 40/50 (reunida à volta de Pimenta) relativamente à dos anos 60. Inicialmente não era minha intenção abordar o pensamento de Alfredo Pimenta, querendo eu dedicar-me às organizações da direita radical mais que aos pensadores individuais, mas acolhi (com muito gosto e proveito) a sugestão do Professor António José de Brito que aconselhou-me vivamente de abordar o pensamento político de Alfredo Pimenta como alicerce da militância intelectual de toda a geração radical dos anos 40-50. Certo é que - como você diz - a relação de Pimenta com os Integralistas e com Rolão Preto nos anos 30-40 teria sido muito interessante e indicativa das fracturas que se viveram na direita radical e que se desenvolveram nos anos a seguir, mas quando se escreve um trabalho histórico é preciso fazer escolhas: focalizar certos argumentos e deixar apenas "aflorar" outros deixando-os na mesa como pistas para futuras investigações.
CF: Também gostaria de perceber porque é que o período escolhido começa em 1939 quando a maior dinâmica da direita radical em Portugal sucede uns anos antes, nomeadamente com o movimento nacional-sindicalista, na primeira metade da década de 1930.
RM: A razão pela qual decidi escolher o ano de 1939 como começo dos meus estudos, deixando de lado o nacional-sindicalismo, reside no facto que o meu objectivo era sondar as origens da direita radical intransigentemente adepta do fascismo e do nacional-socialismo como base de partida para estudar os movimentos que após 1945 permaneceram fiéis aos "derrotados da Guerra". E estas origens encontram-se na altura do eclodir da II Guerra Mundial quando uma parte consistente (talvez a mais consistente) do nacionalismo radical português decide permanecer fiel à antiga aliança com a democracia Inglesa e apoiar nessa perspectiva o neutralismo de Salazar. É a partir de 1939 que se estrutura uma frente rigidamente pró-Eixo à volta do jornal Esfera e de Alfredo Pimenta que se manterá activa também depois de 1945: nestas origens do meio pró-Eixo, o nacional-sindicalismo como organização estruturada (inclusive no seu líder Rolão Preto) teve pouca influência e não apenas por ter sido dissolvido 5 anos antes do começo da Guerra.
CF: Disse numa entrevista que estava a trabalhar num estudo que abordava a direita radical no período democrático. Gostaria de saber se tenciona abordar fenómenos mais recentes como sejam a fundação do PNR.
Finalmente, gostaria de saber a sua opinião sobre a seguinte tese. É opinião comum que aquilo que no actual regime democrático impede a direita radical de ultrapassar a sua situação de marginalidade política é a memória ainda bastante viva do regime autoritário do Estado Novo. Isto porque seria natural que no presente contexto de dificuldades económicas e problemas sociais pudesse emergir à direita um partido com o mesmo êxito político que o BE teve à esquerda. Gostaria de saber se concorda com essa tese, especialmente tendo em conta que no seu país, a Itália, a memória do regime de Mussolini (que arrastou o país para uma guerra, coisa que não aconteceu em Portugal) não impediu o MSI, no pós-guerra, de ter representação parlamentar durante décadas e, inclusive, um seu dirigente de chegar a vice-primeiro-ministro.
RM: Em relação aos meus estudos actuais, a resposta é sim: estou analisando todo o período democrático desde 25 de Abril de 1974 até aos nossos dias, inclusive o PNR sobre o qual apresentei já algumas comunicações em congressos nacionais e internacionais e escrevi um artigo que deverá ser publicado numa revista italiana. Acerca deste partido ou da área a volta dele e da possibilidade de reproduzir, na extrema-direita, o percurso eleitoral do BE, posso dar-lhe uma opinião como cientista político, pois não sou futurologista e (graças a deus) não trabalho com bolas de cristal. O que outros países europeus nos mostram é que partidos de direita radical têm possibilidades de vincar nos tempos actuais de crise económico-social, mas só se tiverem uma identidade alheia às experiencias autoritárias da primeira metade do Século XX. Como você justamente referiu, na Itália conseguiu emergir e resistir um partido de clara inspiração Mussoliniana como o MSI, mas estávamos em 1946 quando apesar da derrota, a "cultura política" do eleitorado ainda mantinha certas referências ideológicas (fascismo/comunismo/etc.). Quando, nos anos 90, se deu a crise italiana de "mãos limpas" e a passagem da primeira à segunda república, o MSI teve a oportunidade de capitalizar em termos de votos esta crise, mas para o fazer (e conseguiu faze-lo) teve que abandonar progressivamente a sua identidade fascista (já a muito fossilizada e estéril), aproximando-se de uma identidade liberal-conservadora com matizes claramente anti-fascistas. Quem representa com sucesso certas posições de extrema-direita na Itália hoje (apesar de não se definir tal) é a Lega Nord, um partido populista e regionalista que cresce no húmus da crise económico-social mas que se apresenta abertamente como partido anti-fascista e demoliberal. O mesmo se passa com os partidos populistas e de extrema-direita do norte-Europa: todos anti-fascistas e ocidentalistas (daí o apoio a Israel, a islamophobia, etc.). A mesma Frente Nacional francesa, que por primeira represnetou uma força de extrema-direita com sucesso consolidado, sempre reivindicou o seu cariz "não fascista" (nunca se definiu anti-fascista que eu saiba), ou seja a componente fascista interna sempre foi mantida à margem da identidade oficial do partido que se refazia muito mais ao nacional-populismo poujadista (de onde vinha Le Pen). E de facto onde Le Pen encontrou grandes dificuldades (assim como Haider) foi frente às acusações de "fascismo" (o Holocausto como detalhe da História; certo pangermanismo austríaco saudosista do Reich, etc.). Em fim, parece-me que a possibilidade do emergir de um partido nacional-populista e de extrema-direita até possa existir em Portugal, mas não de matriz salazarista (penso por exemplo ao que aconteceria se Alberto João Jardim decidisse fundar um partido nacional "anti-sistema" centrado na sua liderança carismática...na minha opinião teria bons resultados). Dito isso, acho também que em Portugal possa ter êxito um partido populista com um discurso anti-elitista (contra a classe política), anti-corrupção e anti-partitocrático. Pelo contrário, duvido muito que o discurso anti-islâmico e anti-imigração tenha algum resultado a nível nacional, devido às características sociais de Portugal (trata-se de saber escolher a agenda política).
Jornal de Notícias [03-10-2010]
Apresento, aqui, dois excertos das minhas análises e peço aos leitores do blogue que enviem os seus comentários, em particular sobre o caso do PNR. A contribuição dos militantes/simpatizantes é particularmente bem vinda.


John Andrade [23-08-2010] - II

Sobre a Legião Portuguesa: a partir do momento em que Marcello Caetano subiu ao poder, a LP, que estava em decadência, começou a reorganizar-se, aceitando antigos combatentes do Ultramar (em especial Comandos e Rangers) e alguns voluntários estrangeiros para construir uma frente de oposição a Marcello, que já há anos era considerado de pouca confiança; e Marcello sabia disto, de tal modo que tentou acabar com a LP, mas sem o conseguir. Por outro lado, o Serviço de Informação da LP tinha à frente um holandês, o Engenheiro Gijsbert Andringa, que se suspeitava que fosse Marcellista e tinha uma filha comunista, a Diana Andringa; e o subchefe era o Major Antunes, pai do famoso Melo Antunes, bem conhecido por ligações à esquerda activa e com ficha na PIDE. Em resumo, o SI estava infiltrado indirectamente, e ainda por cima estava sob a vigilância da PIDE, por ordem directa de Marcello.
Alguns Comandos Distritais da LP eram pouco activos, o que levou a facção nacionalista revolucionária a tomar iniciativas que os Comandantes, geralmente oficiais do Exército, desconheciam. Acontecia também que essa facção da LP tinha o apoio da 2ª Repartição (Informações) do Exército. Chegou-se ao ponto de haver uma rivalidade aberta entre a LP e a PIDE para ver quem enviava ao Governo as melhores informações com maior rapidez. E embora a PIDE tivesse uma rede estabelecida de informadores, a LP tinha informações de melhor qualidade; ainda me lembro de ter lido vários PERINTREPS e SITREPS, que realmente estavam feitos com profissionalismo.
No quartel general da LP, na Penha de França, havia antes do 25 de Abril uma colecção extraordinária de relatórios de agentes secretos do tempo da 2ª guerra mundial. O Governo português era neutro, a Inglaterra era a "velha aliada", mas havia muita gente a favor do Eixo. Lisboa era, naqueles anos, uma cidade onde se encontrava um espião em cada canto. A PVDE (antecessora da PIDE) vigiava os agentes alemães e italianos. E a LP simpatizava com eles e trocava informações – e de que maneira; tráfego marítimo, por exemplo. Estava tudo naquelas pastas. Infelizmente, parece que, na altura do 25 de Abril, foi tudo destruído ou deitado para o lixo. Uma perda inestimável.
John Andrade [16-08-2010] - I

Só me posso pronunciar sobre a parte que diz respeito a Coimbra, e cuja leitura, aliás, me agradou imenso. Mas haveria alguns reparos a fazer. Dois exemplos: na p. 289, seria útil acrescentar que o Comité de Caça aos Comunistas foi criado em Lisboa, onde actuou sobretudo, estendendo-se mais tarde a Coimbra, onde se aliou à ANSA; e na p. 359, confirmo que as folhas intituladas Crónica de uma Vaca Espanhola eram realmente produzidas pela ANSA. Ao que parece, a ANSA começou como um simples projecto de guerra psicológica, mas depressa ganhou vida própria. Creio que teve realmente um papel decisivo na demissão do Gouveia Monteiro. E sabe que tinha contactos com certos movimentos europeus, como a CEDADE em Espanha, e com individualidades como Giorgio Almirante. Outro pormenor: creio que não utilizou as actas do Senado Universitário e dos Conselhos das Faculdades, que têm dados importantes sobre a génese e evolução da Crise de 69. E não mencionou, por exemplo, a filiação confirmada do Reitor Gouveia Monteiro no PCP, nem o José Barros Moura, controleiro do mesmo partido, nem a grande oposição das direitas revolucionárias a José Miguel Júdice, acusado de ser "burguês" e de ter a preocupação de não desagradar ao regime de Marcello Caetano. A razão principal para os ataques dos nacionalistas revolucionários ao Júdice era esta: não confiavam nele. Acusavam-no mesmo de colaborar com as autoridades na perseguição à ANSA, FRA, CCC, etc. – entre outras razões porque ele chegou um dia a dizer, na Cidadela, que "aqueles extremistas só nos causam problemas".
Não fala, no seu livro, da constituição de um Conselho de Veteranos paralelo, que chegou a emitir alguns Decretos. Dizia-se na altura, mas creio que sem fundamento, que o Dux Veteranorum à frente deste Conselho era o veterano de Direito Luís Miranda Pereira, que depois foi Director Geral dos Serviços Prisionais, já em plena democracia.
Embora se refira a agressões a raparigas universitárias e ao facto de o Movimento Estudantil (ME) negar a sua responsabilidade, esqueceu-se de mencionar que foram estas agressões que levaram ao desmantelamento do ME. Eu explico: por ordem directa de Marcello Caetano, a PIDE estava impedida de actuar contra os militantes do ME, que só podiam ser detidos pela PSP, em casos de violação da ordem pública ou delitos menores, ou pela Polícia Judiciária (PJ), em casos de matéria criminal. Ora aconteceu que uma das universitárias agredidas em suas casas era uma filha do Inspector Tinoco, da PIDE, que tomou o assunto nas suas mãos e colaborou com a PJ na identificação e captura dos militantes do ME responsáveis. A partir deste momento, a repressão da PJ passou a ser um facto, aliás contra a vontade de Marcello Caetano, e o ME, que até então tinha gozado de bastante impunidade, viu-se muito limitado nas suas actividades. Quando o Reitor Gouveia Monteiro se demitiu e foi substituído pelo Prof. Doutor Cotelo Neiva, o ME estava pràticamente desactivado, e até ao 25 de Abril nunca mais causou problemas.
Quanto ao Reitor Gouveia Monteiro, já tinha tentado demitir-se antes do incidente do Teatro Gil Vicente, mas o seu pedido foi indeferido pelo Ministro da Educação, Veiga Simão (que, como ele próprio veio a confessar, estava no Governo de Marcello Caetano para o minar por dentro). A sua demissão foi finalmente aceite, não por causa do incidente acima referido, mas pela crescente oposição dos professores e Directores das Faculdades à sua actuação, e também por estar à beira de uma crise de nervos.
Pedro Mesquitela - II [28-05-2010]

Poucos foram realmente influentes como pensadores ou idealizadores, e, eu mesmo, nunca fui ligado a nenhum partido ou facção política, tendo sempre pautado as minhas acções pelo que me parecia correcto e não porque seguisse ordens de ninguém. Fui mais prático do que teórico, embora tivesse estudado toda a teoria. Conheci pessoalmente a maior parte dos nomes que cita a respeito de Coimbra, e concordo que eles tinham um maior embasamento político como grupo. Lisboa sempre foi mais "generalista ".
De certa forma fui o contrário do Luís Fernandes. Ele era o teórico, mas só conheceu a prática no exército. Eu era o prático que no exército foi CCC (graduado em comandante de companhia) mas trazia a bagagem de ter nascido no meio da política e conhecer bem os atores, tanto na Metrópole como no Ultramar. E tinha uma experiência prévia de comando.
As únicas vezes que me consenti pertencer a algum grupo foram os escoteiros em Lourenço Marques e, claro, a Mocidade Portuguesa. Depois conheci o Luís Fernandes (creio que através do António Maria Zorro e o António Couto Viana) e passámos a militar juntos em algumas acções inclusivamente na Legião Portuguesa. Foi ele que me levou para lá e tivemos boas discussões internas no grupo de combate a que pertencíamos com teóricos "marcelistas" tipo Casal Ribeiro .
E nós estávamos certos, o que não ajudou em nada pós 25 de Abril, a não ser prisão ou confinamento domiciliar e seguidas idas á Comissão de Extinção da Legião Portuguesa (leia-se MFA).
Acredite que hoje sou muito mais liberal, talvez até porque não sofro pressões de nenhum tipo e não tenho que reagir com a mesma intensidade e em sinal contrário. Mas não acredito em nenhum político nem faço política no sentido lato da palavra. Acompanho como espectador atento, tiro as minhas conclusões, comparo minhas opiniões no passado com o futuro, e fico feliz quando acerto o diagnóstico. E fico triste com a "baixa política" existente hoje em Portugal.
Que saudades da Librerie de L'Amitié em Paris ....e, de certa forma, da Nouvelle Ordre e dos seus ideólogos. Ao menos existia uma ideologia pela qual viver e lutar. Hoje não sei se realmente existe, até porque o mundo está muito diferente e o bipolarismo acabou (felizmente nesse ponto). Mas falta ainda a "Terceira Via " que nem sabemos ainda realmente o que é.
Vi muito, ouvi muito, vivi muito até porque os Pais e irmãos estavam em Moçambique e eu era o único em Lisboa na Faculdade de Direito. Tinha assim acesso aos 2 lados da realidade portuguesa - a da Metrópole e a do Ultramar, a dos civis e a dos militares, a dos políticos de "esquerda"e de "direita". Triste foi ver como a população da Metrópole em geral conhecia mal a realidade Portuguesa. E disso se aproveitaram muitos, sem escrúpulos nem cor política.
Isso não significa que eu não aprove um Portugal mais Europeu. Também acreditei que as Províncias deveriam ter sua independência, mas não gostei da forma como foi feito, com total desrespeito aos portugueses de lá e até animosidade na Metrópole em relação aos chamados "retornados ". E, sobretudo, o posicionamento dos 2 primeiros governos pós 25 de Abril em relação aos cidadãos, tanto em Portugal como no estrangeiro (consulados). Sou testemunha viva disso, pois saí de Portugal em Agosto de 1975 e só pude voltar em 1988 (quando consegui uma amnistia pela visita do Papa), que acabou com a minha ordem de captura em Portugal. E tive irmãos considerados apátridas pelo Governo Português só porque tinham nascido em Moçambique...Mas tinham bilhetes de identidade e passaportes dizendo República Portuguesa, e não conheceram nunca outra bandeira na vida que não fosse a nossa.
Vejo hoje mais as coisas sob o ponto de vista humano do que político.
Pedro Mesquitela - I [28-05-2010]

Devemos ainda falar de gente que naquela altura foi realmente importante como o Jaime Nogueira Pinto, o Luís Fernandes e o Pedro Pinto (em Lisboa) e nos movimentos nas faculdades em Lisboa em 1970 (Jorge Braga de Macedo, Marcelo Rebello de Sousa, eu mesmo, e tantos outros, que já demonstrava o que seria o pré e o pós 25 de Abril.) E os movimentos dentro do próprio governo de Marcelo Caetano com gente como o Baltazar Rebello de Sousa, o Silva Cunha (antigo ministro do Ultramar), O João Rosa (ex-ministro das Finanças) cada qual com a sua agenda e propósito.
[…] meu Pai escreveu vários livros sobre a posição a respeito do Ultramar e fez várias intervenções na Assembleia onde era deputado por Moçambique , e até 7 volumes sobre a História de Portugal em Macau e Extremo-Oriente . Mas fazem parte de um quadro mais vasto, e só posso adiantar que as chamadas "direitas" não eram exactamente monolíticas, tendo várias vertentes, sobretudo no que respeita á política Ultramarina. Desde 1952, quando o Prof. Adriano Moreira foi Ministro das Colónias existiam vários movimentos e matizes quanto á auto-determinação, independência ou simples abandono do Ultramar. Expoentes eram o próprio Prof. Adriano Moreira (que criou o ICSPU), o meu Pai, o Jorge jardim, o Santos e Castro (governador em Angola), o Pimentel dos Santos (governador em Moçambique) entre outros.
Cada qual á sua maneira e com uma visão pessoal do futuro, embora pudessem diferir nos meios para se alcançarem os fins. E todos poderiam ser chamados de "direitas". Mas "direitas" em relação a quê? Onde estava o centro em 1970? Enfim, daria para conversarmos anos a fio.
O Ultramar era a grande questão em Portugal, talvez porque era filho de uma visão de ditadura ou de democracia. Sobretudo a partir de 1970 a questão fica mais aparente, com o Marcelo Caetano e sua indecisão íntima, a traição ao Integralismo Lusitano de que tinha sido artífice, a traição aos ideais "fascistas" como Comissário Nacional da Mocidade Portuguesa, e a enorme falta de capacidade de substituir o movimento aglutinador da antiga União Nacional pela amorfa ANP. Mas não quero ainda entrar nessa questão. É só um "aperitivo ".
Folhas Ultras na Feira do Livro

Escuso de dizer que “secção de autógrafos” é apenas o nome um tanto altissonante para informar da presença do autor. Quem procura o livro ou passeie por aí e queira aparecer por trocar umas ideias, dar sugestões e comentários acerca do tema tradado é bem-vindo.
José Valle de Figueiredo em África

Depois de ter enviado o comentário anterior, verifiquei que o que tinha escrito sobre o Zé Vale de Figueiredo não estava correcto. A memória às vezes prega-nos partidas.
A correcção é a seguinte: O Zé Vale (Alferes Miliciano de Infantaria) ofereceu-se como voluntário para a Guiné em 1967, para onde foi em rendição individual. Era Comandante Chefe o General Arnaldo Schultz. Spínola só chega à Guiné em 1968.
Corrigido este meu lapso não quero deixar de dizer que de entre todos os "nacionais" não houve nenhum que se escusasse a ir para os Teatros de Operações, uns voluntários e outros logo mobilizados, sem hipóteses de tempo para se voluntarizarem.
Também é certo que alguns Camaradas mobilizados para Províncias não em guerra (Timor e Cabo Verde) trocaram as suas mobilizações de forma a poderem ir para os teatros de operações